O exemplo sempre vem de cima. É a máxima máxima, não tem jeito. A Seleção Brasileira encarna esse espírito com clareza.
Faz sentido um presidente de confederação de futebol prorrogar o próprio mandato? Pois é, na CBF foi isso que aconteceu. Se o cartola-mor Ricardo Teixeira acha isso normal, muitas outras coisas serão encaradas com uma normalidade abissal.
Por exemplo: faz sentido, em ano olímpico, a CBF não se preocupar com Olimpíada? Pois o técnico da Seleção, Dunga, disse isso com todas as letras: "Olimpíada é importante, mas futebol resume-se a Copa do Mundo. Prioridade é a principal, a Copa". Ele repercute o que a direção do futebol brasileiro pensa no momento. Pra comissão técnica do Brasil, pensar assim é normal.
Já que é assim, pra que disputar a Olimpíada? É só dizer que não vai, e pronto.
Analisar futebol também é analisar os discursos e suas construções. A CBF não deu importância para a Seleção Olímpica, e não traçou nenhum planejamento a respeito. No entanto, para não ficar claríssimo à torcida brasileira essa atitude (porque Seleção é Seleção, é Brasil, o torcedor vai torcer. Se ganhar é festa, se perder é crise), agora surge o discurso de que "não é prioridade". Ou seja, existe um planejamento, o de não pensar na Olimpíada. Transformaram incompetência e desinteresse em uma atitude pensada.
Acredita quem quiser. Qual o fato? Não houve a preparação da Seleção Olímpica. Mas, no caso de haver algum vexame em Pequim, é melhor plantar um discurso ensaiado agora pra não culparem a CBF depois. Se o ouro vier, farão como fazem todos os cartolas: vão usurpar um naco do mérito dos atletas na conquista.
A Seleção feminina de futebol também sofre com esse desinteresse faz tempo, e tão somente por seu talento e pela vitrine do Pan 2007 vai ganhando espaço. E pra provar que futebol tem tudo a ver com espetáculo, dá uma olhada no jeito que a Leah bate lateral. A beleza do futebol, como o samba, agoniza com seus detratores. Mas teima em não morrer.
ATUALIZAÇÃO: acabei de ler que dois blogs linkados aqui (Ledio Carmona e PC Vasconcellos) acham correto priorizar a Copa e esquecer da Olimpíada. Ledio até acha que a torcida não dá bola para a medalha de ouro. Discordo, mas ainda assim não houve planejamento para a Seleção Olímpica. Isso é fato. A justificativa que veio depois é outra história.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Seleção do mal e Seleção do bem
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Um comentário:
se tivéssemos homens no comando dos esportes olímpicos e da cidade do Rio de Janeiro - digo homens não no sentido de ser do sexo masculino, mas no sentido de não temerem nada, de tomarem atitudes, independentemente do sexo - alguém do COB ou da prefeitura ou do comitê de candidatura do Rio à Olimpíada teria dado uma prensa no Ricardo Teixeira e na CBF para explicar que a medalha olímpica pode não significar nada para eles, mas é de extrema importância para a candidatura da cidade à sede olímpica de 2016, e depois de o Rio e COB terem contribuído tanto para a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014, graças ao bom desempenho no Pan, o mínimo que a CBF poderia fazer para retribuir era encarar a Olimpíada com seriedade. Ora, que interesse o COI deveria ter em sediar os Jogos Olímpicos aqui se o país, representado por seu principal esporte, não demonstra nenhum interesse nos Jogos? Mas por outro lado, se César é incapaz de peitar um mero dono de boca do Pavão/Pavãozinho, que dirá peitar o maior mafioso do futebol brasileiro...
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