domingo, 17 de julho de 2011

Tia Bola e as lições da Copa América


- Meninos, meninos, que tristeza é essa? Não se pode ganhar todas, seus papais técnicos não ensinaram isso a vocês? Vamos para a nossa atividade de hoje. Quero que cada um levante e conte pra tia Bola o que vocês aprenderam com a Copa América. Júlio César, já que você é o camisa 1, pode começar:

- Eu aprendi que tenho que ser menos marrento, senão vou ficar que nem o Rogério Ceni: mala e frangueiro no fim de carreira...

- E...?

- ... e que tenho que conversar mais com a Susana pra não ser pego de surpresa no Twitter.

- Muito bem. Daniel Alves, e você?

- Eu aprendi que a Seleção não é o Barcelona, e que os campeonatos que eu disputar com a camisa amarela não serão moleza que nem o espanhol... Tia, olha o Maicon, ele tá rindo!

- Maicon, por favor! Você já saiu no lucro, né? Nada de bullying com os coleguinhas. Lúcio, e você, que cara é essa?

- É minha cara de sempre, ué. Humpf.

- E o que você aprendeu com a Copa América?

- Eu já sabia tudo. Eles é que não aprenderam nada. Mas eu avisei.

- Ai, ai, ai... Nada de beicinho, tio Dunga não está mais aqui. Senta e pensa no que você falou. Thiago Silva.

- Aprendi que pênalti não é loteria.

- Muito bem. André Santos e Elano, nem precisam levantar, né?

André Santos e Elano engolem o choro.

- Lucas Leiva, e você?

- Eu aprendi que a Seleção não é o Grêmio. Que não importa o quanto eu jogue bem, se eu bater nos coleguinhas a torcida não vai me aplaudir.

- Gostei de ver. Ramires?

- Tia Bola, eu aprendi que posso ser um volante diferente. Posso atacar e marcar sem bater.

- É, nesse último ponto você ainda tem que ficar mais esperto. Mas tá caminhando. Ganso?

- Eu aprendi que na Seleção eu não posso reclamar de salário e nem ficar falando que vou pra outro time.

- E a tia espera que você não tenha esquecido do que já sabe, né? Robinho?

- Eu aprendi que Seleção não é funcionalismo público, e que se eu não jogar bem e não chamar a responsabilidade por ser um dos veteranos, vou pro banco.

- Muito bem, Róbson. Afinal, nada mais humilhante que ser reserva do Jádson.

Os meninos se entreolham, constrangidos, procurando Jádson.

- Não se preocupem, meninos, o Jádson deve estar por aí com o empresário, que nem deixou ele tirar o uniforme. Neymar?

- Eu aprendi que na Seleção eu não sou o cara que tem que resolver tudo, apesar do que tio Muricy e tia Crônica Esportiva me disseram esse tempo todo. E não esquecer do que disse tio Dodô.

- Dodô, não. Dadá! "Não existe gol feio..."

- ... feio é não fazer gol".

- Isso, quero que você escreva cem vezes no seu caderno e me traga na próxima competição oficial. Pato?

- Eu aprendi que, se eu não namorar a filha do Ricardo Teixeira, não adianta nada jogar mais ou menos.

- Esses hormônios... Fred?

- Eu aprendi que eu já tinha que ter aprendido a jogar na Seleção.

- Lucas Silva, você tá me ouvindo? Fica de cabeça baixa o tempo todo...

- Tô, tia Bola. Eu aprendi que tenho que amadurecer muito, pra ganhar corpo e a camisa da Seleção não ficar tão pesada.

- Ah, meninos, espero que vocês não se esqueçam dessas lições, viu? Quando chegarem em casa, lembrem ao papai Mano que tio Muricy fica espalhando que eu puno, etc e tal. Aquele é outro que merecia voltar pra sala de aula. A culpa nunca é dele!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Haja paciência!


Oito ou oitenta. Parece que o mundo navega entre esses pólos, seja qual for o assunto. Inseridos na cultura consumista e imediatista, da satisfação pessoal agora e já!, descartamos os processos de maturação pelos quais todos nós passamos.

A Seleção Brasileira atual não está jogando mal como se diz. Como a memória nunca é nosso ponto forte em momentos de paixão impulsiva, lembrem que os eleitos de Dunga já empataram com a Venezuela, os de Felipão perderam pra Honduras, os de Parreira perderam pra Bolívia...

São muitos os exemplos de atuações bem mais vexaminosas e preocupantes da Seleção. E o que isso significou mais pra frente? Nada que fosse consequência direta dessa fase. Felipão levou a Copa, Dunga perdeu. Parreira levou nos pênaltis.

O denominador comum a todos esses momentos acontece também agora: todas essas Seleções Brasileiras foram amadurecendo com o tempo. Por mais que você discorde da filosofia de trabalho de cada treinador, não há dúvida que, com o tempo, os times foram ganhando uma "cara".

Eu me pergunto por que tanta pressa pra Mano Menezes e cia. serem perfeitos. Ok, entendo que é uma grande expectativa diante da qualidade atual dos jogadores. Mas o Brasil de 1958 começou a Copa com Pelé e Garrincha no banco. O de 1970 garantiu a ida ao México num 1 x 0 suado contra o Paraguai, num Maracanã lotado. E vocês acham que a mítica Seleção de 82 se fez da noite pro dia?

Vamos baixar a bola. Pela primeira vez, podemos dizer que há qualidade em TODOS os setores do time. Volantes que não só marcam como tocam bem na bola, versatilidade do meio-campo pra frente... Saudades de Mauro Silva, Felipe Melo, Doriva, Afonso Alves?

Concordo com o capitão Lúcio: apesar disso tudo, é preciso seriedade. E raça. Sem esses dois atributos, não há talento que se sustente. A displicência de Daniel Alves e Robinho não se justifica. Nesse ponto devemos cobrar desde já.

Mesmo que sejamos desclassificados domingo, o trabalho de Mano está em processo. E ainda nesse patamar, dá gosto de ver uma Seleção que não briga com a bola. É muito talento junto, com um técnico que quer investir nesses talentos. Não é isso que pedimos desde sempre?

Aí vem o oito ou oitenta, no quesito paciência. Uma geração mimada que tem tudo à mão não aguenta esperar. É o que nós somos nesse começo de século 21, e projetamos essa personalidade em tudo - até no torcer pela Seleção.

Parece que Ganso e Neymar assinaram um contrato escorchante para jogar o fino durante os 90 minutos de todos os jogos. Na primeira balançada dos dois, já os descartamos. É nossa verve consumista falando alto. #foraneymar nos Trending Topics depois de dois jogos ruins do atacante é dose cavalar.

E pior que as viúvas de Dunga são as noivas de Muricy.