segunda-feira, 6 de junho de 2011

Petkovic, eterno e simples


Não fui à despedida do Zico. Mas fui à do Pet. Acho que isso resumiria o post inteiro, né?

Como tantos fizeram no dia 27 de maio - dez anos do gol contra o Vasco, que o imortalizou na galeria dos ídolos rubro-negros - lembro de onde estava naquele dia inesquecível. Na casa da minha tia, em Cabo Frio, e aos 43 do segundo tempo saí correndo e chutei um balde que rolou escada abaixo, fruto de pura alegria. Só minha tia não ficou alegre, ora essa.

Ainda veio o renascimento quase messiânico de Petkovic no Brasileirão 2009 que nem a sua marra em 2010 pôde apagar nos corações flamenguistas. Depois da geladeira de Luxemburgo (o Pet não poderia ter sido opção de banco nesse tempo todo?), resolvi que na despedida eu estaria.

Parecia predestinação, já que um dia antes de comprar o ingresso ele veio até minhas mãos por um colega da pós. Tinha sobrado, e lá fui eu no domingo, sozinho (como há muito não fazia), assistir, duvidoso porém respeitoso, à última atuação de Pet.

A dúvida era por não saber se seria uma despedida ridícula (como a de Maradona gordo no Boca Juniors, ou Gornaldo na Seleção), mas nunca faltaria com o respeito pelo que Petkovic já fez pelo Fla.

Vi o trem lotado de pessoas das mais variadas idades. À minha frente, na fila para entrar, um casal com o neto, todos paramentados com camisas e bandeira, máquina digital, saídos três horas antes de um lugar longe do Rio. Não eram o tipo de torcedor que acompanha todos os jogos. Era a força do ídolo.

Um Engenhão lotado como eu nunca vi, e Petkovic mostrando que teria vaga no time, não fosse a idade pesando. Eu, sozinho na multidão, presenciando tudo aquilo. Não foi uma atuação de gala, não foi um jogo sensacional, sequer foi vitória do Flamengo. Mas eu estava lá.

Quando Petkovic deu a volta olímpica agradecendo a cada canto do estádio, tenho certeza que olhou pra mim e disse "obrigado". E sei que cada uma das 42 mil pessoas sentiram o mesmo. Além do talento e do rubro-negrismo adquirido, Pet tem carisma - sem o qual nenhum ídolo se sustenta.

Não vi a despedida de Pelé, nem a de Zico. Mas vi a de Petkovic. E mesmo nesse último suspiro de seu futebol (por vontade própria e "por cima"), estavam lá representados os elementos que fazem a graça do futebol: torcida que vai pra torcer e reverenciar um ídolo; o ídolo, por sua vez, reunindo talento, disposição e carisma. E ambos, em paixão sadia, reconhecendo mutuamente a importância um do outro para aquele relacionamento de sucesso.

Números, resultados por si só, táticas, técnicos sabe-tudo, dirigentes, marketing, elitização dos estádios, violência... Nada disso fica na memória. Mas um golaço de falta aos 43 do segundo tempo, acompanhado de tudo o que um Petkovic foi capaz de proporcionar para o Flamengo... lota um estádio dez anos depois.

E eu estava lá!