sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sem Zico não há Flamengo

Hoje é um daqueles dias em que você se pergunta se ainda vale a pena acompanhar futebol. Lembro que me senti assim depois da final da Copa de 1998 com todos os desdobramentos Ronaldo-Nike.

Como flamenguista e defensor do resgate do clube das mãos de seus sanguessugas, meu luto pela saída de Zico não tem data pra acabar. E talvez (talvez!) seja atenuado assistindo ao rebaixamento do Flamengo à segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Sei que isso não resolveria os problemas, nem daria uma crise de consciência nos dirigentes (públicos e escusos) que se perpetuam ordenhando a vaca premiada que o é milionário Flamengo.

Sim, milionário, e se o dinheiro não sobra é porque administrações errôneas, incapazes e mal-intencionadas é que fazem o dinheiro ir pelo ralo de contratações questionáveis, justiça trabalhista e afins...

Mas não há como desejar outra coisa além do castigo do rebaixamento quando o ídolo maior Zico, que construiu sua carreira de maneira ilibada dentro e fora dos campos, é enxotado do clube sob pretextos que nunca foram aplicados a outros dirigentes.

Se o Galinho recebesse um milhão de críticas pelas decisões que tomou no futebol isso seria um exercício democrático. Zico cometeu erros - o principal, a contratação do zagueiro Jean - mas em nenhum momento pensou em abandonar o projeto de resgatar o clube moralmente. Mas não foram apenas críticas. Foi sabotagem mesmo.

Tudo começou de maneira covarde. Seus acusadores espalharam na internet os boatos sobre as ingerências dos filhos de Zico nas contratações. Nenhuma assinatura. Zico expôs esse detalhe e pediu para virem a público assumirem as denúncias, explicou tudo e que os contratos dos jogadores estavam à disposição do clube.

Depois, o filho do ex-presidente Delair Drumbosck resolveu dar as caras, junto ao pseudojornalista Milton Neves, para acusar Zico de nepotismo, insistindo na acusação acima. Logo ele, que na gestão do pai chefiou o departamento de marketing, e é sócio do filho de Milton Neves numa agência que perdeu a conta do clube.

O filão estava pronto. Renato Mauricio Prado, que cobre o Flamengo desde os tempos de Zico como jogador, levantava a bola dia sim, dia não em sua coluna no Globo. Estamos falando de um jornalista que conhece o caráter de Zico como poucos, de perto, e ainda assim encampou a tese de que o Galinho estava usando o clube para proveito próprio. A parceria com o CFZ, feita na gestão de Delair, não foi criticada à época, em nenhum de seus pontos.

Zico veio para dar um jeito nas divisões de base. Fora o aspecto de ser uma "fábrica de bichos", como pontua Lucio de Castro, era a farra dos empresários. Jogadores que nunca chegaram aos profissionais eram vendidos sem nenhum lucro para o clube. Uma prática que foi denunciada e combatida por Zico em sua curta gestão. E que o Conselho Fiscal e os jornalistas que cobrem o Fla nunca criticaram.

A ascensão de Leonardo Ribeiro como presidente do Conselho Fiscal do clube é uma boa demonstração de como as coisas funcionam no Flamengo. Um chefe de torcida organizada dura mais tempo como dirigente do que o maior ídolo da história do clube. E após passar pela Federação de Futebol do Rio pelas mãos de Eduardo Vianna, o "Caixa d'Água", posa de defensor dos interesses do Fla acusando Zico. Ora, pensam que somos idiotas?

Mas a mesma perseverança que Zico demonstrava dentro de campo ele encampou diante dos problemas acima relatados. Só que cada um sabe do seu limite. O de Arthur Antunes Coimbra foi quando, na impossibilidade (ou covardia) de atingi-lo diretamente, criaram o factóide em cima da família. Ninguém pode condená-lo por abandonar o barco, torpedeado há décadas na Gávea.

Talvez o maior erro de Zico tenha sido o de ter assumido o cargo de diretor-executivo no conturbado momento da demissão de Marcos Braz. Pegar o bonde andando, tendo que oferecer resultados, seria uma tarefa difícil para qualquer um. Mas no Flamengo, cheio de sanguessugas ainda por cima, a tarefa fica quase impossível.

Se Zico tivesse ao lado um presidente com forte apoio político e no começo de sua gestão, talvez as coisas fossem diferentes. Não é o caso de Patricia Amorim. Fraca como líder, sem saber bulhufas de futebol, e isolada na seara política da Gávea.

Mesmo assim, o tal presidente teria que comprar a briga moral que Zico comprou. E não vejo nenhuma possibilidade de existir alguém assim dentro do clube.

Diante de tudo isso, não me resta outra alternativa a não ser torcer pelo rebaixamento do Flamengo. Sei que, como todo torcedor, o desejo sincero que isso aconteça vai arrefecendo com o tempo. Mas o luto, a ressaca, a tristeza de ver Zico desistindo por não ver chance de moralizar o clube, pressentir que Luxemburgo e seus esquemas estão prestes a desembarcar, me dá uma desesperança muito grande.

Continuo com Zico, mas não pelo Flamengo. Não ESSE Flamengo.