segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um ótimo prenúncio


Taí, né, senhores, a primeira conovcação de Mano Menezes como técnico da Seleção brasileira. Além de ser uma lista melhor do que se esperava, a entrevista coletiva do novo comandante demonstrou, pra felicidade geral (e para mim, até surpresa) como ele estava muito, mas muito preparado para ocupar o cargo.

Tanto a convocação como a postura e as respostas de Mano a cada pergunta mostraram, sem alarde e com seriedade, como o técnico acompanha e conhece futebol dentro e fora do Brasil. Parece aquele aluno que não é CDF, mas que se esforça bastante no dever de casa e nas pesquisas pra não se sair mal nas provas. Nem em testes-surpresa, como um convite para técnico da Seleção já tendo que convocar 3 dias depois.

A presença de jogadores como Rafael, do Manchester United, e David Luiz, do Benfica, revela como Mano assiste aos campeonatos internacionais onde há brasileiros em campo. Ele também mostrou como é organizado e se preocupa em ter uma boa estrutura para trabalhar; explicou o que deve fazer o coordenador técnico; como vai partilhar a tomada de decisões; e que vai planejar um calendário para facilitar a liberação de jogadores do exterior.

Citou que se preocupa com o aproveitamento de jogadores da base e em observar esses atletas. No obscuro torneio que a Seleção sub-20 vai disputar no Paraguai, Mano já vai enviar seu auxiliar técnico. Já projeta as Olimpíadas de 2012, sem utilizar da necessária renovação para guardar rancores do passado. "Nenhum jogador que esteve na Copa de 2010 está excluído", disse ele.

Mano também observou que, sem eliminatórias, os adversários terão que ser escolhidos de maneira que dêem trabalho ao Brasil, para testar as capacidades. Fico curioso para saber se a CBF continuará a marcar amistosos contra Seleções do quilate de Omã, Zimbábue etc.

O melhor de tudo é que Mano Menezes mostrou como o respeito dos demais é conquistado, não decretado. Respondeu a todas as perguntas sem abrir mão de seus critérios, que fez questão de explicar quais eram. Sempre educado sem deixar de ser firme, com a segurança de quem leva a sério o que faz.

E é bom ver os Meninos da Vila na lista (até para serem devidamente testados), Alexandre Pato de volta com tudo para garantir sua presença como centroavante e VOLANTES QUE SABEM JOGAR, dito nessas palavras pelo novo técnico.

Foi bom demais pra ser verdade, superando as expectativas. Vamos ver se a CBF e os corneteiros de plantão permitem que Mano Menezes desenvolva suas ideias, fruto de uma mentalidade que parece estar de olho nas raízes do futebol brasileiro e no contexto geral do mundo do futebol.

VEJA A LISTA COMPLETA DOS CONVOCADOS:


Goleiros

Renan (Avaí)

Jefferson (Botafogo)

Victor (Grêmio)

Laterais

Rafael (M. United)

Marcelo (Real Madrid)

André Santos (Fenerbahçe)

Daniel Alves (Barcelona)


Zagueiros

David Luiz (Benfica)

Henrique (Racing S.)

Réver (Atlético-MG)

Thiago Silva (Milan)

Meias

Ederson (Lyon)

Carlos Eduardo (Hoffenheim)

Hernanes (São Paulo)
Sandro (Internacional)

Paulo Henrique Ganso (Santos)

Lucas (Liverpool)

Jucilei (Corinthians)

Ramires (Benfica)

Atacantes

Robinho (Santos)

Neymar (Santos)

Alexandre Pato (Milan)

André (Santos)

Diego Tardelli (Atlético-MG)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A fila anda


Há males que vêm para bem. Se a CBF teimou em não levar a sério a tal da renovação, quis o destino que o "Flunimed" fizesse a justiça que o Brasil esperava. Não liberaram Muricy, que também pode ter pensado nas condições do compromisso de Ricardo Teixeira com sua permanência até a Copa.

Será que esse reconhecimento todo do oligarca-mor do futebol brasileiro duraria até os primeiros perrengues? Felipão à espreita e com larga experiência nas costas poderia assumir até nas vésperas da Copa de 2014, por que não?

A ironia do desfecho foi tamanha que o Fluminense, o clube que mais demite e contrata técnicos ao seu bel-prazer, bateu de frente com a CBF alegando que Muricy tem contrato em vigor, e vai cumpri-lo até o fim. Será que esse reconhecimento vai durar até os primeiros perrengues?

E como a fila anda e segunda-feira já tem convocação para o amistoso de 10 de agosto, Mano Menezes foi chamado e, segundo o site da ESPN, já aceitou. Considero uma boa escolha, pelos seguintes motivos:

- Ele consegue montar um time sólido na defesa sem deixar de ser ofensivo. Assim foi com o Grêmio e o Corinthians, que chegou a jogar com 3 atacantes natos: Ronaldo, Dentinho e Jorge Henrique;

- Não deixa de ser uma renovação, pois Mano apareceu para o cenário brasileiro em 2004, e já conseguiu títulos como a Copa do Brasil, campeonatos estaduais e chegou a uma final de Libertadores;

- Está há 3 anos no Corinthians, um time com grande pressão da torcida espalhada pelo país por títulos e ofensividade: é um estágio para a Seleção;

- Tem mais jeito para disputar mata-matas do que Muricy;

- Tem bom trânsito com dirigentes, imprensa e jogadores, sabendo ser flexível sem ser fraco e firme sem ser cabeça-dura, com todos;

- Aproveita jogadores novos, faz apostas, vai saber renovar o plantel;

- Faz com que seus jogadores desenvolvam novas habilidades. Os já citados Jorge Henrique e Dentinho viraram alas sem deixar de comparecer lá na frente, assim como Elias e Cristian deixaram de ser meros volantes de contenção.

A única coisa que Mano precisa melhorar, e rápido, é parar com a cornetagem de juízes e bandeirinhas durante os jogos.

Pra CBF mostrar de vez que apendeu a lição, poderia chamar Leonardo para alguma função na nova comissão técnica. Coordenador ou auxiliar, pra já ganhar experiência e começar a ser preparado para o futuro, como Joachim Lown, da Alemanha.

Leonardo tem tudo pra ser um novo técnico, com uma visão de mundo bem ampla, podendo ser exemplo de uma nova mentalidade para a categoria. Também tem capacidade para ser o novo diretor de seleções, observando a base e passando informações para Mano.

Nunca pensei que fosse dizer isso, mas... valeu, Fluzão!

Vai dar trabalho, meu filho!

 

Em 2006 o clamor era por um técnico que trouxesse de volta o comprometimento dos jogadores com a Seleção, levando a sério cada convocação. A CBF viu em Dunga esse perfil, a despeito de sua falta de experiência como técnico. Não se pode dizer que foram incoerentes.

Agora, o próprio presidente da CBF já tinha admitido, no 'Bem, Amigos', que Dunga exagerou na guerra com a imprensa, que o próximo técnico terá a responsabilidade de renovar a Seleção. E o clamor público atual é pela volta do autêntico futebol brasileiro, que a Espanha teve que reeditar e ser campeã para nos relembrar disso.

E aí chamam Muricy: um técnico que é tão mal-educado com a imprensa quanto Dunga; que em três anos de São Paulo aproveitou pouquíssimo a base do clube (quando foi demitido, os juniores literalmente soltaram fogos no CT de Cotia); e que, definitivamente, não vai encampar o autêntico futebol brasileiro. É só olhar pro tricolor paulista dos títulos brasileiros e pro Fluminense de agora.

"Ah, ele foi campeão por onde passou". Continuaremos então com o rame-rame do futebol de resultados?

Eu fico impressionado com o cartaz de Muricy com a imprensa de São Paulo. Paulo Vinicius Coelho, da ESPN Brasil, resumiu bem: "Nós somos mais condescendentes com o Muricy", ao falar do mau relacionamento com os jornalistas. E esse cartaz é que minimiza publicamente suas características negativas.

Não escolheria Muricy para a Seleção brasileira. Ok, pode ser questão de gosto. Mas para uma Copa do Mundo no Brasil, com a necessidade de se renovar o time, foi uma péssima escolha.

domingo, 11 de julho de 2010

Erpanha!

O resultado da Copa 2010 mostrou que a justiça e a esperança podem andar juntas, ao menos no futebol. Ganhou o time que jogou na bola, fez menos faltas, buscou o gol (com paciência até demais), privilegiou o talento acima de qualquer coisa. Foi justo o título da Espanha. E também alimenta a esperança de que o estilo campeão influencie o desenrolar do futebol mundo afora.

A Holanda abriu mão da sua tradição usando a mesma lógica burra que vemos por aqui: "se sempre perdi jogando bonito, então para ganhar tenho que jogar feio". Sim, a Laranja foi mais Mecânica do que nunca, perdendo até traços de humanidade: foi o time mais faltoso, o que mais recebeu cartões. Na final, ficou clara a opção por "matar a jogada", quase matando o jogador.

Não exagero. Felipe Van Bommel Melo atingiu todas as partes da anatomia humana, revezando os jogadores espanhóis. De Jong tatuou as travas de sua chuteira no peito de Xabi Alonso, numa disputa de bola que não pedia essa violência. E na cara do juiz, que afinou ao não mostrar o vermelho. Por que os holandeses reclamaram tanto de Howard Webb?

A Espanha mostrou que o futebol deve ser inteligente e gostoso de ser jogado. Quem acompanha os jogos do Barcelona sabe que a extensa troca de passes (sempre certos) até deixar um Messi na cara do gol é característica dos espanhóis. Fazem por que são capazes e porque assim é mais fácil de jogar, isto é, de acordo com o seu potencial devidamente estimulado e desenvolvido.

"Ah, todo time tem que ter ao menos um volante pra roubar a bola, mesmo que não tenha muito talento. Senão, fica exposto". É mesmo? E é esse o perfil de Xabi Alonso, Busquets e Xavi?

"Ah, o técnico tem que impor seu estilo, deixar a sua marca no jeito do time jogar". Pois Luis Aragonés foi campeão da Euro 2008 jogando assim, e Vicente Del Bosque (que é seu desafeto!) manteve o rumo traçado. Pra que violentar a vocação de seus atletas? A Espanha mostra que o orgulho pessoal deve ser deixado de lado, principalmente pelos técnicos. Tática ajuda, mas não chuta pra gol.

Mantenho a crítica à Espanha quanto à falta de objetividade na hora de definir as jogadas. Até fazer o gol, Iniesta irritava por não chutar quando a partida pediu, por duas vezes. Mas é bom lembrar que Fernando Torres, seu melhor finalizador, "não veio" à África do Sul, estando em péssima condições físicas. E Villa definiu 4 jogos dessa campanha.

Passes certos em todos os setores do campo, volantes que sabem jogar e fazer gol, marcação preenchendo espaços sem usar a violência, banco igualmente talentoso, técnico que deixa o protagonismo para os jogadores. Não é um time perfeito, mas que tem a intenção de fazer o melhor, e não apenas fazer o resultado.

Contra os chatos de plantão, idólatras do resultado puro e simples, e preguiçosos em estimular talentos dentro de campo; para os que admiram um futebol bem jogado e por isso vencedor, ESPANHA!!!!!!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A final dos azarões


Brasil, Argentina, Inglaterra, Itália, Alemanha, Holanda e, de uns tempos pra cá, Espanha. Na hora de destacar os favoritos para levarem a Copa do Mundo, são sempre esses os eleitos. Sendo que a Laranja e a Fúria confirmavam sempre a desconfiança implícita da hora do palpite e nunca chegavam na final. Pois bem: os "azarões" dos favoritos vão disputar quem será o primeiro eutopeu campeão fora de seu continente.

Não se pode dizer que é uma final injusta. A Espanha mostra que a derrota no primeiro jogo foi mero acidente de pecurso - embora deva agradecer a David Villa a objetividade que tanto lhe faltou em alguns jogos. A Holanda, cuja diferença de suas últimas campanhas foi não se jogar loucamente ao ataque, faz uma campanha de seis jogos e seis vitórias.

Não se pode condenar a Alemanha pela derrota de hoje. Estava sem Thomas Müller, a válvula de escape mais inteligente da equipe, que não tinha um substituto à altura. E a Espanha jogou sua melhor partida na Copa, empurrando os alemães para dentro do gol deles, se possível.

Se no primeiro tempo ainda faltava um quê de agressividade para assustar de vez os germânicos, ele veio na segunda etapa. Apesar de Iniesta e Xavi serem alérgicos a chutes a gol, Villa, Xabi Alonso e Pedro não eram, e fizeram Neuer suar. Só que a zaga alemã foi perfeita, não perdeu uma só jogada durante toda a partida.

Então, quando os talentos ataque-defesa se anulam, sobressai o inesperado e a raça. Ambos encarnados no gol espanhol: num escanteio, com um "chute" de cabeça de Puyol, o menos habilidoso (e às vezes o mais destrambelhado) do time.

Podemos esperar muitas emoções no jogo de domingo. Holandeses e espanhóis podem entrar para a história do futebol ao vencerem a primeira Copa de seus países. Sneijder e Villa disputando o título de melhor jogador do torneio. Um cochilo da marcação pode significar o resultado final.

A Espanha tem muito mais habilidade, porém carece de definição. A Holanda mascara a habilidade que tem compensando com um poder de definição cruel (vide o jogo com o Uruguai). A partida já começou, psicologicamente.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uruguainazzo!


Não tenho dúvidas que a torcida mais orgulhosa de sua seleção nessa Copa é a uruguaia. Os alemães podem estar felizes o futebol-total germânico, mas o que a Celeste Olímpica fez na África do Sul, com todas as suas limitações, é pra ficar na história.

É preciso lembrar que o Uruguai classificou-se para a Copa numa repescagem contra a Costa Rica. Depois de vencer fora de casa, empatou em Montevidéu no sufoco. A desconfiança, pra não dizer descrédito absoluto, era o sentimento reinante na torcida, na imprensa, nos críticos.

No sorteio dos grupos, viu que ia enfrentar a França, já campeã mundial; a anfitriã África do Sul; e o experiente México. Difícil imaginar que sequer passaria de fase. Mas foi líder do grupo, sem levar gols. Depois, passou pela Coreia do Sul e então houve o épico jogo contra Gana.

Talvez a missão uruguaia já estivesse cumprida, com esse elenco já tinha feito muito além do que se esperava. Mas a Celeste Olímpica evocou seus antepassados e encarnou uma garra incrível contra a favorita Holanda. A marcação não permitia que a defesa laranja respirasse, os craques Sneijder e Robben só apareciam para reclamar do juiz.

Até que a Holanda fez um golaço de fora da área, talvez a senha para que o Uruguai partisse pro ataque e esperasse a goleada. Mas não. Fórlan e seus companheiros parecem ser a seleção mais equilibrada emocionalmente dessa Copa. Aumentaram o volume de jogo e o camisa 10 acertou mais um chute venenoso, empatando. A Jabulani é o "Wilson" de Fórlan.

No segundo tempo, cadê a Holanda? Se faltava ao Uruguai um atacante com faro de gol (era Suárez, o herói anti-herói, que estava fora), sobrava disposição para sufocar a laranja assustada, criar jogadas, rondar o gol de Stekelemburg.

Mas o talento individual falou mais alto. Sneijder acertou um chute cruzado; Kuyt, no único lance em que ficou livre de marcação, deixou a bola na cabeça de Robben. E foi tudo o que a Holanda fez em mais de 90 minutos de jogo.

Só que a raça uruguaia continuava à flor da pele. Foram pra cima, do jeito que dava, iam morrer de pé. E aos 47 fazem o segundo gol, trazendo de volta as altas emoções numa Copa marcada pelos cautelosos contra-ataques. A laranja surpresa pedia que o juiz acabasse logo aquela tortura.

Mesmo que fiquem em 4º lugar, o Uruguai fez uma campanha milagrosa, mas à custa de muito trabalho. A Holanda me parece um "déja vù" do Brasil: prefere os contra-ataques, tem 3 jogadores que fazem a diferença, nervosinhos, fazem um jogo chato. E estão catimbeiros como os Argentinos! Já escolhi um time pra torcer contra, e nem tem a ver com a vitória sobre a gente.

sábado, 3 de julho de 2010

De cinema! De cinema!


Acabei não escrevendo sobre Uruguai x Gana ontem, e pensei ter perdido o timing. Mas ao rever os lances hoje nos telejornais esportivos, não resisti. Foi daquelas partidas em que se entende porque o futebol é um esporte que fascina o mundo inteiro, independente de raça, religião, classe social, localidade geográfica.

Quem imaginaria que tudo aquilo poderia acontecer num jogo de seleções sobre as quais nenhuma boa expectativa pairava antes da Copa? O que mais me cativou foi o revezamento dos papéis de herói/vilão e do humor das torcidas.

O goleiro uruguaio estava mal colocado quando Muntari chutou quase do meio-campo pra fazer 1 x 0 Gana. Muslera virou candidato a vilão.

Nos acréscimos da prorrogação, o atacante Suárez evita um gol, com os pés, em cima da linha: candidato a herói. No lance seguinte, evita outro do mesmo local, usando as duas mãos. Pênalti para a Gana, Suárez expulso: candidato a vilão.

Gyan, que já tinha feito dois gols em cobranças de pênalti nessa Copa, se apresentou para levar a última seleção africana presente no torneio a ser a primeira seleção africana presente em semifinais. Virou candidato a herói.

Mas o atacante ganês perdeu o pênalti, virou vilão. Suárez então volta a ser herói, com o detalhe de ter se sacrificado pela nação uruguaia: estava fora do jogo e de uma possível semifinal.

Nos pênaltis, o goleiro uruguaio defendeu duas cobranças. Deixou de ser vilão, virou herói. E na cobrança final, Sebastian "Loco" Abreu, no começo do chute, honrou o apelido e tinha tudo pra ser vilão. E dos mais inconsequentes! Mas a bola morreu nas redes de Kingson, que se fosse flamenguista, ficaria estático no meio do gol. O camisa 13 uruguaio virou herói.

Foi preciso que um jogador infrigisse descaradamente as regras do futebol (evitar um gol com a mão) para que a grande maioria das emoções acontecesse. Apostou alto na roleta do esporte (já ia ser gol mesmo) e foi devidamente punido com o cartão vermelho.

Mas quem disse que o futebol tem lógica?

Por que tantos tentam encaixotar o futebol para que ele não nos proporcione mais surpresas como essas?

Por que tantos tentam transformar o futebol numa coisa mecânica, sem vida, sem riscos, sem humanidade?

Pois a genética do futebol mostra-se resistente perante seus exterminadores travestidos de sábios do esporte. E faz com que Uruguai x Gana torne-se um jogo que vai entrar para a história. Porque não são apenas os resultados ou as táticas que fazem a graça do futebol.

Danker!


(Foto: Globoesporte.com)

Futebol é gol. Vitórias e títulos só são alcançados por quem faz mais gols. O gol é a alegria maior da torcida e a principal recompensa de um trabalho bem feito. É o último momento da jogada bem sucedida. E a Alemanha está lembrando aos pseudo-doutores chatonildos do futebol que buscar o gol é a principal missão de qualquer time que entre em campo.

Foi assim contra a fraca Austrália, a badalada Inglaterra e à irresponsável Argentina. Irresponsável sim, pois simplesmente não convocou jogadores de defesa. Maradona e Dunga cometeram os mesmos erros: não levaram opções de banco. No caso brasileiro, para o meio-campo.

Mas quero falar da Alemanha. Com sua atemporal frieza, é um time que não "rifa" a bola, não dá chutões, não é violento, não faz catimba e não abdica do objetivo máximo do futebol: fazer gols. Hoje já estamos modorrentamente acostumados à entrada de um defensor e à timidez ofensiva quando um placar seguro é construído. Sendo que esse placar seguro é sempre relativo.

Os alemães, que fizeram uma excelente renovação de talentos (Joachim Lown para técnico do Brasil!), não param de buscar o gol a um só instante. Têm um bom goleiro, uma defesa sólida, um meio-campo que tanto defende como ataca, um ataque objetivo e plural. Em suma, é um time equilibrado.

Porém de nada adianta ser um time equilibrado se o técnico começa a incutir na cultura desses jogadores a necessidade de se encolher em campo, de ficar satisfeito com um 2 x 0. Não. Essa Alemanha faz um, dois, três gols e busca o quarto tento como se ainda estivesse  0 x 0. São nada menos que oito gols feitos em duas fases eliminatórias da Copa, contra adversários tradicionais e campeões do mundo.

O que falar da Argentina? De que adianta ter os melhores atacantes da Copa se do meio pra trás é um desastre total? Todos, do goleiro ao lateral-esquerdo, jogam no time da pizzaria: adoram entregar.

O que Alemanha faz na África do Sul é uma mudança cultural. Que pode ser replicada por todo o mundo se ela sagrar-se campeã jogando esse futebol ofensivo e massacrante.

PS: "Danker" = "Obrigado", em alemão

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Laranja mecânica mesmo: sangue frio nas veias



Ganhou o time que jogou melhor. Não há outra explicação para essa partida entre Brasil x Holanda. No primeiro tempo sufocamos como poucas vezes se viu uma seleção fazer nessa Copa, e poderíamos ter matado o jogo. No segundo tempo, os holandeses mostraram que o equilíbrio entre as equipes existia no futebol, mas não no lado emocional.

Foi a grande surpresa do Brasil: por que o time se mostrou tão nervoso na África do Sul? Foi assim contra Costa do Marfim, Portugal, Chile e Holanda. Hoje, com dois minutos de partida, Robinho encarava um zagueiro de maneira desproporcional. O árbitro era pequeno demais para um jogo dessa importância, mas isso não explica o destempero GENERALIZADO dos brasileiros.

Não concordo com a ideia de que, se tivéssemos no banco alguém capaz de desequilibrar, mais talentoso, o resultado poderia ser diferente. Não nessa partida. Ronaldinho Gaúcho, Neymar, Ganso... Todos iam entrar naquela "pilha" em que até os jogadores mais experientes já tinham embarcado. Enquanto tivemos os nervos no lugar, vencemos a Holanda com o time que estava em campo.

E aqui fica o meu pedido aos torcedores, imprensa esportiva, apresentadores de TV, formadores de opinião: NÃO DEMONIZEM FELIPE MELO. Quem acompanha este blog sabe o quanto critico esse jogador, concordo que não deveria ter ido à Copa, era uma bomba-relógio ambulante etc. Mas hoje ficou claro que todo o time se descontrolou, e não foi a primeira vez, conforme já citado.

Felipe Melo surpreendeu o mundo dando um passe magistral para o primeiro gol do Brasil. No empate, a falha foi de Júlio César (que não gritou e saiu mal). E no momento da expulsão - sem dúvida, um destempero característico do jogador - o jogo já estava 1x2, sem a menor perspectiva de que o Brasil viraria, mesmo com ele. E a Holanda não aproveitou a vantagem de mais um em campo.

Acho um equívoco, pra não falar crime, colocar nos ombros de um atleta todo o fracasso, e ecoar isso milhares de vezes, transformando-o num pária social. Repito: formadores de opinião, imprensa etc têm a RESPONSABILIDADE de não deixar isso acontecer. O futebol é vencido e perdido coletivamente. E nenhum esportista pode ser tratado como um câncer a ser extirpado da sociedade pelo que fez ou deixou de fazer em campo. É muito fácil eleger um Judas e malhá-lo eternamente.

O que lamento é ver Robinho tão nervoso e sumido do jogo do segundo tempo. O mesmo para Luís Fabiano, que sequer voltava pra buscar jogo. Kaká ainda tentou, e está nítido que não está na sua melhor forma física. Será que a contusão no púbis é pior do que se imaginava?

De novo, o campeão da Copa das Confederações não leva a Copa do Mundo. Será que (conforme apontou Lúcio de Castro na ESPN) as equipes chegam o seu máximo um ano antes e começam dali uma certa decadência física?

Agora Dunga deve saber lidar com as críticas e reconhecer (ainda que para si) se suas escolhas foram certas. Adiantou o time ficar tão fechado? Se o objetivo era deixar os jogadores focados, por que perderam o foco no momento decisivo? Por que levar jogadores sobre os quais ele não tinha a menor confiança pra colocar em campo, como Kléberson e Grafite? O que foi feito, após o jogo contra a Costa do Marfim, para acalmar os ânimos dos jogadores?

E Felipão vem aí...