terça-feira, 27 de novembro de 2018

Jefferson, o humano




Ele parou. Quando a TV do restaurante mostrou o goleiro do Botafogo chorando no ombro da mãe em meio às homenagens pela despedida, parei pra olhar. E deu um nozinho na garganta aqui. Jefferson foi um dos jogadores de futebol mais próximos de nós, cidadãos comuns.
Assim como o Homem-Aranha era um super-herói com problemas pra pagar o aluguel, Jefferson era um senhor goleiro que se machucava, ia pra reserva e precisava gramar pra voltar à titularidade. Já ídolo, viu Gatito se assenhorar de seu lugar e sua resiliência no banco nunca foi interpretada como fraqueza, mas exemplo.
O carisma de Jefferson era do tipo afetuoso. Nada de marra, frases de efeito, bate-bocas homéricos. O sorriso contido do goleiro é daqueles que te deixa à vontade pra dividir uma garrafa de cerveja no boteco da esquina.
Nada de malabarismos desnecessários sob as traves. O futebol de Jefferson era correto e comprometido, a ponto de suas falhas jamais serem creditadas à displicência. Seus milagres eram pragmáticos, mas nem por isso desespetaculosos.
Fiquei muito feliz quando chegou à Seleção, porém lamentando que seu melhor momento já havia passado. Era predestinado ao Botafogo, fazendo com que o lendário Manga pudesse ser lembrado pelas novas gerações. E ao Botafogo de seu tempo, com altos e baixos esportivos e financeiros, plenamente identificado com um clube que trocou quase todo o elenco durante o período, menos Jefferson.
Além disso, após Barbosa e a maldição cretina (e racista) sobre os goleiros negros, lá estava Jefferson, depois de Dida, rompendo barreiras do preconceito do qual não foi a única vítima dentro dos gramados.
Antes de ser jogador, foi palhaço de circo para sobreviver. Já consagrado, foi assaltado tendo seu carro roubado. Em ambas as situações, era o mesmo Jefferson: com uma audiência cativa (as câmeras de segurança filmaram o roubo) compadecendo-se de sua tragédia e torcendo pela virada.
E agora Jefferson deixa o picadeiro. Sua despedida foi numa segunda-feira, dia de trabalho: nada mais humano. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O que realmente vale

"A melhor maneira de honrarmos as pessoas que perdemos nesta terça-feira é trabalhando para que o exercício da humanidade no futebol não seja tão raro e não exija uma tragédia para emergir. É nos lembrarmos de como conseguimos substituir o ódio irracional que tanto permeia o futebol pelo amor, e as desavenças, pelo apoio incondicional. Precisamos nos lembrar da Chapecoense nas próximas vezes que tivermos o impulso de xingar, humilhar ou agredir torcedores adversários. Precisamos nos lembrar da Chapecoense nas próximas vezes em que tivermos o impulso de abraçar o egoísmo para levar vantagem a qualquer custo em um esporte que deveria representar outros tipos de valores. Precisamos nos lembrar da Chapecoense sempre que esquecermos que juntos todos são mais fortes. Sempre que estivermos prestes a levar o futebol a sério demais, porque, nele, não há inimigos, apenas adversários. É, sim, apenas um jogo, mas são em dias como o de hoje que lembramos o quanto ele consegue ser transcendental." (Bruno Bonsanti, Trivela, 29/11/2016)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O jogo da vida de todos nós


"Se eu morresse hoje, morreria feliz". Com essas palavras o técnico da Chapecoense, Caio Jr., traduzia o sentimento de disputar a primeira final sul-americana em um clube que há 3 anos estava na Série D do campeonato brasileiro. Era - e foi - o jogo da vida deles. E dos jornalistas e tripulantes que os acompanhavam.

Já seria uma tragédia em si, mas ser paradoxal ao momento da Chape só agudiza as coisas. Era uma ascensão meteórica de um clube com salários em dia, bem gerido, ciente do seu potencial e sonhando alto pro futuro. Despertou a simpatia de todo o país: como o América no Rio, tinha virado o segundo time de todo brasileiro. Afinal, já viviam um conto de fadas, derrubando vários clubes grandes e tradicionais da América do Sul, com direito a milagre no último minuto.

Não era pra ser. A força e a frieza amoral de tais palavras caíram numa serra da Colômbia e mais uma vez sobre nossas cabeças. Porque não foi a primeira nem a será a última oportunidade em que os que ficaram tenham todos um violento mix de sentimentos: pesar pelos que se foram e por suas famílias, alívio por ter sobrevivido (dessa vez) e a certeza de que um dia ouviremos o apito final.

Impossível (para mim, ao menos) assistir a imagens de antes do voo, e acho que a mídia precisa refletir se é pra fazer isso mesmo. Afinal, ainda mais agora, é para informar, e não flertar com sensacionalismo caça-clique.

Queria estar em Chapecó para chorar junto com os torcedores. E que o ano do futebol se encerrasse hoje, deixem tudo pra depois. Não há clima, e estamos de luto. Que os os outros clubes emprestem jogadores à Chapecoense, que a CBF impeça que seja rebaixada tão cedo (como foi feito com o Torino em 1949), homenageeiem cada vítima, ajudem financeiramente. Façam como o capitão do Atlético Nacional, que quer abraçar as famílias e abrir mão do título; como o André Rizek, que honrou atletas e profissionais da imprensa de uma só vez.

Hoje é dia de desarmar todos, absolutamente todos os ódios e chorar com os que choram. Já é muita coisa. Segue o jogo.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Algum clube quer vencer o Brasileirão?

A pergunta não vale apenas para a edição atual. Dirigentes, jogadores e torcida costumam mencionar a Libertadores, a Copa do Brasil, às vezes até os estaduais ao falarem da expectativa de conquistas para o ano. É raro alguém mencionar o título do campeonato nacional como um objetivo declarado, no máximo arriscam dizer "uma boa campanha no Brasileirão". Por que isso acontece?

domingo, 3 de maio de 2015

A morte e a ressurreição do Campeonato Carioca


Foto: Paulo Fernandes / Vasco.com.br
O campeonato estadual do Rio de Janeiro começou do mesmo jeito de sempre: desorganizado, inchado de clubes que votam com o presidente da Federação, dando prejuízo financeiro para os clubes grandes e com muita politicagem. Mas o que era pra ser um dos piores e mais insossos torneios dos últimos anos virou uma acirrada disputa, renovando a rivalidade e mostrando que ainda há vida e emoção no Carioquinha. Resta saber se o diminutivo será retirado um dia.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Jonas e os tempos bíblicos do futebol

Foto: Site do Flamengo
O melhor momento do polêmico Fla-Flu de domingo foi a comemoração de Jonas ao fazer o primeiro gol rubro-negro. Para as gerações que conhecem apenas o futebol  milionário de jogadores-celebridade dos últimos tempos, a cena trazia um vislumbre do que significava para muitos jovens chegarem vivos à peneira final, isto é, os 11 titulares de um clube grande.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Minas há mais

Pode soar masoquista da minha parte retomar o blog depois de ontem, o dia em que a vítima da vez foi o meu Flamengo. Porém, se torço para o meu time, é porque antes disso gosto de futebol. Bom futebol, bem jogado, atualizado, com tesão e vontade de dar alegrias à torcida sem mesquinharia ou pensar pequeno. E é isso que Atlético-MG e Cruzeiro oferecem ao Brasil há dois anos, e com absoluta justiça estão na final da Copa do Brasil.