segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Os sabichões perderam

A grande contribuição do Brasileirão 2009 para o futebol é que ele deu uma rasteira nos experts que teimam em prever logicamente o que vai acontecer a cada rodada, ou ao final do campeonato. Além dos matemáticos (e de seus puxa-sacos incondicionais), que devem ter virado muitas noites refazendo seus cálculos tão certeiros. O campeonato desse ano foi uma vitória da humildade - é preciso retornar a ela para não passar vergonha em público.

E isso vale também para os técnicos que "se acham" e os jogadores que relaxam antes da hora. É só olhar, principalmente, o segundo turno do campeonato. Começou com um Palmeiras embalado e disparado na frente e um Fluminense praticamente extinto do calendário oficial. E depois? Um revezamento contínuo de candidatos ao título e suplentes da zona de rebaixamento.

O mais engraçado era ver a crônica esportiva decretar, semana após semana, que agora ia ser assim e assim (este blog aqui inclusive!), e aí o imponderável do futebol acontecia, o favorito tropeçava e a sabedoria dos entendidos da bola virava um castelo de cartas.

E assim como o Lázaro bíblico, quem poderia prever o festival de ressurreições? Fluminense, Fred, Petkovic, Andrade, Ricardo Gomes, o próprio Adriano... Quem poderia prever que até o último suspiro um monte de times poderia levar o título? Pergunte aos torcedores do Flamengo se eles estão tranquilos para domingo que vem.

Especificamente sobre a rodada de ontem, quais as constatações? O Corinthians continuou com a preguiça de vaga garantida na Libertadores; o Flamengo mostrou que tem elenco, já que Adriano (e Pet, convenhamos) foram desfalques; o Inter prova que tem um bom time; o Palmeiras, se mantiver o elenco, pode acertar com Muricy em 2010; o Fluminense dá ainda mais orgulho para a torcida; o Botafogo está pedindo para fecharem o caixão da Série A.

Não concordo quando dizem que o Campeonato Brasileiro está nivelado por baixo. Tivemos jogos bons de emoção e de qualidade. Vamos admitir de uma vez por todas! Nossos talentos vão-se embora? Sim. Há jogos ruins? Como em qualquer campeonato nacional. A arbitragem está catastrófica? Talvez, ainda mais em tempo de TV. Mas foi um campeonato muito, muito bom de ver, do começo ao fim.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Alergia ao título?

Será que a taça do Campeonato Brasileiro foi contaminada pelo vírus da gripe suína? Só por aí dá pra explicar o "esforço" que os postulantes ao título têm feito para deixá-la escapar, tal e qual uma batata quente.

Tudo começou com o Palmeiras, que estava 500 mil pontos à frente dos demais e corria pra repetir o feito do São Paulo, de acabar com a festa muito antes do final. Mas lá veio o Verdão, descendo a ladeira, e agora a vaguinha na Libertadores vira a maior ambição do Palestra Itália.

Depois o Internacional não conseguiu lidar com o desmanche e com a troca de técnico e ficou mais longe da taça. O Atlético-MG, regular toda vida no topo da tabela, beliscou a liderança até ser derrubado pelo Flamengo em casa e também se deprimiu.

Quando São Paulo e Flamengo ficaram como virtuais candidatos para serem campeões, cada passo em falso poderia decidir a disputa. O tricolor cambaleou contra o Grêmio, deu uma recuperada contra o Vitória e então veio o jogo-chave, contra o Botafogo, no Engenhão.

E não é que o São Paulo perdeu, de virada, para o heróico Botafogo? Com o jogo acontecendo antes de Fla x Goiás, o Maracanã rubro-negro comemorou cada gol alvinegro. Uma vitória simples bastava para colocar o time da Gávea na liderança.

E não é que o Flamengo empatou sem gols contra o Goiás, em casa? Jogou com um salto tamanho 14, achando que venceria a qualquer momento. E jogou muito, muito mal.

Aí a taça do Brasileirão 2009 segue acabrunhada e com a auto-estima lá embaixo, sendo rejeitada rodada após rodada. Um dos melhores campeonatos da década pode terminar com uma grande contradição: um campeão vacilante em momentos decisivos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desproporções

O Palmeiras demitiu Obina e Maurício após a confusão de ontem?

Então deveria ter demitido Diego Souza pelo papelão contra o Santos, no campeonato paulista deste ano, ao voltar a campo pra "bicar" Domingos.

O presidente, Luiz Gonzaga Belluzo, também deveria se demitir após o destempero rasteiro (e repetido no dia seguinte) contra a arbitragem - que prejudicou o time, sem dúvida.

O futebol brasileiro virou especialista em desproporções.

É desproporcional a pena de três jogos aplicada a Jean, volante do São Paulo. Assim como é desproporcional a cobertura da imprensa sobre as fanfarronices do STJD.

No caso do Palmeiras, uma suspensão com multa já daria conta do recado. Agora, desperdiça um zagueiro promissor e um dos artilheiros do time, que a torcida abraçou desde o começo? Em nome do quê? Da "honra às tradições do clube"? Ah, faça-me o favor.

Honrem as tradições dentro de campo, jogando bola e administrando com competência.

Nunca torci tanto pro Flamengo vencer um campeonato: um time que anda em paz, fincado no talento de seus atletas e no bom senso de seu técnico. Não dá pra elogiar a diretoria, mas ao menos Marcio Braga calou a boca.



Chutando o politicamente correto pro alto: adorei quando o argentino Nani, que tinha aberto o supercílio de Gum, leva uma cacetada e não consegue levantar, aos 47 do segundo tempo. Melhor ainda porque, na sequência, o próprio Gum decretou a desclassificação do Cerro Porteño.

Assim como foi muito bom ver o Fluminense virando o jogo na bola, a despeito da cumplicidade criminosa da arbitragem com a maldade do time paraguaio.

***

Henry não foi o primeiro, e não será o último. Ao menos enquanto a Fifa ignorar que as câmeras podem ajudar o árbitro e o espetáculo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Primeiro e segundo normalíssimos

Analisando o momento atual (sem apontar o final da história), pode-se dizer que os times mais sólidos dessa reta final do campeonato estão nas duas primeiras colocações. São Paulo e Flamengo apresentam características muito semelhantes.

Ambos possuem um elenco cuja base joga junta há algum tempo, facilitando o entrosamento. Seus técnicos foram oficializados em meio ao Brasileirão e debaixo de muita desconfiança, e fazem campanhas melhores que os "medalhões". O clima nos dois times é bom, e tanto o carioca quanto o paulista possuem uma boa mescla de jogadores experientes e jovens.

Isso tudo talvez explique porque estão bem mais estáveis do que os que gravitam no topo da tabela. O Cruzeiro perdeu do Flu e empatou com o Grêmio quando não podia; Palmeiras e Atlético-MG não têm aguentado a pressão e ficaram ansiosos demais com a possibilidade de serem campeões, o que atrapalhou seus rendimentos. O Internacional coleciona maneiras de irritar a própria torcida.

No entanto, vejo vantagem para o Flamengo, que possui jogadores mais decisivos: Adriano e Petkovic atravessam uma fase madura, assumindo seus papéis de liderança. No São Paulo, Rogério Ceni é o único que pode ser comparado à dupla rubro-negra, mas fica lá no gol. E a arrancada rubro-negra (típica do tricolor do ano passado, vejam só) não parece querer se contentar com Libertadores.

Do lado de baixo da tabela, é de admirar a reação do Fluminense. Até jogadores medianos como Mariano estão fazendo boas partidas, e o ataque relembra a dupla vascaína Romário-Euller: Maicon transformou-se num "garçom" para Fred. O centroavante fez dez gols em dez jogos, não preciso dizer mais nada. E o passe de Conca no segundo gol foi sensacional.

Faço questão de destacar a bela homenagem feita a Washington, ex-craque do Flu, que passa por problemas de saúde. As camisas, a campanha para ajudar, fazer o Maracanã inteiro saudá-lo ao vivo foi de arrepiar. Parabéns à torcida e aos idealizadores, solidariedade e memória made in Laranjeiras.

E o Botafogo, hein? Esqueceram de levar a disposição na bagagem pra Barueri. O Fla agradece, pois o jogo contra o São Paulo, no Engenhão, virou final de Copa.

Acho um absurdo que a grande campanha do Avaí esteja sendo negligenciada pela crônica esportiva. Um time que volta à primeira divisão depois de muito tempo, já se garante na Copa Sulamericana e ameaça ir à Libertadores merece todo aplauso. E sempre jogando de igual para igual com os principais clubes do país.

Parabéns também ao técnico Silas, que faz ótimo trabalho e ainda tem uma postura exemplar, sem cair no rame-rame arrogante de muitos "cãomandantes" tupiniquins.

sábado, 14 de novembro de 2009

É Nilmar é mais 22

E o Brasil venceu a Inglaterra mais uma vez, num jogo que só valeu pelo segundo tempo. Não tem jeito: quando acontece o famigerado "nó tático" por parte de algum técnico, é garantido que a partida perde em espontaneidade e qualidade.

Quando a Seleção começou a bagunçar a marcação inglesa, ficou fácil. Até porque esse era o English Team B. Sem Terry, Gerrard, Lampard, Beckham, Ferdinand não dá pra esperar muito.

Elano vai deixando de ser o jogador burocrático de sempre pra se especializar em dar passes precisos. Michel Bastos não comprometeu na lateral-esquerda, mas também não encheu os olhos. Vou dar o desconto da pressão, mas o Brasil precisaria de outros jogos até a Copa pra fechar seu elenco com mais certeza. Corre o risco de ir à África do Sul com uma interrogação na camisa 6, seja quem for.

Ponto também pra Thiago Silva: tem uma personalidade impressionante. Vai fazer carreira na Seleção brincando.

E de novo, Nilmar é o nome do jogo. Não só mostra disposição, como uma inteligência acima da média entre os atacantes brasileiros. Mirradinho, virou especialista em se posicionar bem e usar a velocidade pra vencer mil zagueiros (estagiou no futebol gaúcho, né?).

O atacante do Villareal ainda pensa rápido: é difícil vê-lo se enrolando com a bola ou perdendo uma oportunidade - se vacilarem na frente dele, já era. Que o digam Brown e Foster, após o jogo de hoje. Isso acontece porque Nilmar já sabe o que vai fazer antes da bola chegar a ele. É a tal capacidade de antecipação, comum a grandes craques do futebol.

Agora vamos nos preparar para o próximo clássico arranjado pela CBF: Brasil x Omã...

domingo, 8 de novembro de 2009

Ao torcedor, tudo

Quem acompanha este blog sabe o quanto critico a irracionalidade do torcedor (como já diz o título). Não desprezo a paixão, mas a irracionalidade que beira a agressão.

No entanto, precisamos voltar ao beabá do futebol, desde o seu surgimento: quem faz o espetáculo dentro de campo são os jogadores; fora dele, o torcedor. Abaixo com a supervalorização de técnicos e as "melancias no pescoço" de dirigentes quase inúteis.

O que se tem visto no Mineirão com o Atlético, no Maracanã com Fla, Vasco e Flu, na Ressacada com o Avaí, nos Aflitos com o Náutico, no Palestra Itália com o Palmeiras é pra se destacar. Milhares de torcedores acompanhando seus times, lotando estádios, vibrando e cantando muito, estejam eles em cima ou embaixo na tabela.

E é pra eles que tudo deve ser proporcionado. É neles que se deve fazer um bom planejamento, boas contratações, pagar em dia, jogar com raça, treinar sempre.

Mais do que bons jogos, o returno do Brasileirão está proporcionando que testemunhemos como o torcedor comparece, mesmo sendo tratado mal - com Estatuto de Torcedor e tudo. (Os vândalos que se travestem de torcedores para brigar não são torcedores.)

Um brinde aos autênticos torcedores, que não merecem:

- um time cuja única jogada seja a bola alta na área, como o Palmeiras do "gênio" Muricy;

- uma direção que bagunça o time até não poder mais, como foi com Sport e Fluminense durante o ano;

- um calendário em que os jogos não param em datas FIFA, fazendo da convocação de seus ídolos um tormento paradoxal;

- jogos no calor escaldante, cansando-os e também aos atletas em campo, detonando a qualidade das partidas;

- um árbitro como Carlos Eugenio Simon, que depois de dar pênaltis fantasmas, parece ver o jogo com óculos do Mundo Bizarro, como na hora de anular o gol legítimo de Obina.

Mas os torcedores merecem:

- um Petkovic cheio de dores brincando de fazer gol olímpico diante da massa atleticana;

- um Fred ressurgindo contra a desconfiança dos próprios adeptos tricolores, e levando o time com ele;

- um Ronaldo fazendo gols em clássicos e golaços até em jogos que não valem nada.

domingo, 1 de novembro de 2009

Criogenia, tamos aí!

Petkovic virou maestro do Flamengo aos 37 anos...

Marcos fecha o gol do Palmeiras aos 36 anos...

Iarley comanda o ataque do Goiás aos 37 anos e o goleiro Harley segura a onda com seus 36...

Marcelinho Carioca aguenta um jogo inteiro no Santo André, aos 38 anos...

E agora o Botafogo quer entrar na festa da meia-idade, trazendo de volta Dodô, com 36 anos.

A longevidade dos jogadores acima tem a ver com a queda de qualidade do futebol brasileiro (no Brasil) em geral? Ou eles souberam criar um novo estilo de jogo de acordo com os novos limites?

Baresi foi líbero do Milan beirando os quarenta anos. Maldini continuou por lá até os 40. E o que dizer de Zanetti, 36 anos, titular da Inter de Milão? Até o ano passado, Nedved e seus 35 desfilavam e faziam gols na Juventus.

Bom, mas o futebol italiano também anda em viés de baixa, se comparado com o restante da Europa. Ainda assim, o fenômeno não deixa de ser um prêmio de consolação para o extrativismo contínuo dos talentos da casa brasileira.