terça-feira, 31 de março de 2009

Desaprendendo

Para os que defendem que a paixão futebolística é inversamente proporcional à sanidade mental do sujeito, veja que belo argumento.

E o cara é professor...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Sobrevivemos

(Foto: Agência/AFP)

Coitada da seleção do Equador. Quando resolvem jogar pra cima do Brasil, apresentando um futebol envolvente e eficiente, dão de cara com o paredão Júlio César. Mas o goleiro da Seleção sair de um empate contra os equatorianos como o melhor jogador em campo... Sei não...

Não cola mais a desculpa da altitude. Ademir da Guia, grande craque do Palmeiras, já dizia: jogador bom não é o que corre, mas o que faz a bola correr. Era isso que a Seleção devia fazer ontem, como foi no lance do gol de Júlio Baptista. Aliás, o meia-atacante sempre mostra disposição pra resolver o jogo quando entra em campo.

A lateral-esquerda volta a apresentar problemas, e parece que não vai melhorar muito. Marcelo não conta tanto com a confiança de Dunga, e o tímido Kleber vai ser mais um burocrata do setor. A cobertura também não está lá essas coisas. O que foi aquele drible que Felipe Melo levou no gol do Equador??

Já desisti de Ronaldinho Gaúcho. Agora desisto até de escrever sobre seu rame-rame sem graça de sempre.

Espera-se que contra o Peru, no Beira-Rio, Kaká possa voltar e organizar o meio-campo da Seleção. Mas não sei se haverá tanta mudança assim. O torcedor tem que se conformar com o limitado e pouco criativo pensamento de Dunga.

domingo, 29 de março de 2009

É coisa de gente grande

(Foto: Agência/Photocâmera)

Que me perdoem os times pequenos e as prefeituras que os patrocinam, mas campeonato regional só tem graça quando os grandes estão bem. Veja a diferença do primeiro para o segundo turno do campeonato carioca: agora os quatro grandes estão "tinindo" paras semifinais, disputando ponto a ponto.

O clássico vovô estava bem chato até os vinte minutos finais de jogo. Fluminense e Botafogo estavam sem inspiração, embora o tricolor sempre rondasse o gol de Renan com perigo, mas sem muita objetividade.

Foi só Maicossuel sofrer o pênalti e inovar na paradinha para as coisas mudarem. Ney Franco tentou repetir a estratégia de atrair o adversário para seu campo e jogar nos contra-ataques, mas o Flu da Taça Rio é bem diferente do Flu da Taça Guanabara. A pressão foi grande, e o vira-vira era questão de tempo. Se fizerem a final do campeonato, o técnico alvinegro vai precisar de mais criatividade.

E se há um jogador indispensável no tricolor, é Conca. Sem marra, com habilidade e surpreendendo as defesas quando elas menos esperam. Tem sido assim desde a Libertadores 2008.

E o Flamengo? Vai ressurgindo das cinzas? Oito gols em dois jogos (sendo cinco de Josiel) é indício de que algo melhorou. Erick Flores entrou muito bem no time, que conta com boa movimentação e variação de jogadas e posições, confundindo a marcação. É o estilo Cuca.

Mesmo se o Fla perder nas semifinais ou na final, seria essencial manter o técnico para o Brasileirão. Em pontos corridos e com o time na palma da mão desde o início do campeonato, ao menos a vaga na Libertadores é garantida. Mas a “insanação” rubro-negra vai ter paciência?

O Vasco (assim como o Flu) já garantiu sua vaga nas semifinais, com outra vitória, numa goleada cheia de gols bonitos. O "tapetudo" Jefferson vai redimindo a diretoria vascaína e vira peça-chave no esquema de Dorival Junior. Vai ser difícil convencer o cruzmaltino de se contentar com pouco.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Outra vez Zagallo


Após a derrota da Seleção Brasileira para a Argentina por 0 x 3 nas Olimpíadas de 2008, a capa do caderno de esportes do jornal O Globo entrou para a história. Parodiava um anúncio funebre, dando a entender que os dias de Dunga à frente do comando técnico estavam contados.

Posso parecer exagerado ao dizer que a capa entrou para a história? Mas não digo isso de forma positiva. Até onde eu sei e aprendi, o jornalismo deve reportar (e reportar-se) aos fatos. E, naquele instante, Dunga não tinha sido demitido. Logo, não era um fato.

Se não foi essa a intenção, tudo leva a crer que o jornal entrou na onda de pressionar a opinião pública para forçar a saída de Dunga. Coisas que qualquer grande grupo de mídia está mais do que acostumado a fazer.

O tempo passou e, seja por que motivo for, Dunga continua no comando da Seleção. E pior (ao menos, para o jornal): a Seleção apresenta um futebol aceitável, conta com uma base quase fechada para a Copa e nada de ameaças a Dunga. Se o resultado na África do Sul for ruim, a CBF não vai assumir o risco de ser culpada por bagunçar todo um trabalho, ainda mais a quase um ano da competição.

Quem acompanha este blog sabe que sou opositor de Dunga na Seleção desde o momento em que seu nome foi anunciado. E continuo achando que ele é um técnico limitado que não consegue mudar o panorama adverso de um jogo (pelo que apresentou até agora).

Mas pior é a mídia tentar forçar a realidade em vez de apurá-la corretamente. Diga que o futebol do Brasil na Era Dunga 2 é de morte. Mas não fique com a pretensão de criar a realidade.

***

Goste-se ou não, o Brasil já tem uma base para a Copa: Julio César, Maicon, Lúcio, Juan, Kléber; Gilberto Silva, Felipe Melo, Anderson e Kaká; Robinho e Luís Fabiano. Reservas: Doni, Daniel Alves, Thiago Silva, Marcelo; Josué, Elano, Anderson, Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Pato e Adriano.

Só falta um zagueiro e um meio-campo, coisa que não vai ser difícil de arranjar. É, meu povo, Dunga repete Zagallo, ainda que no seu íntimo: "Vocês vão ter que me engolir!".

quinta-feira, 26 de março de 2009

O retorno da camisa 9

(Foto: Agência/Reuters)
Bendito seja o ano de 2009, caracterizado ainda no primeiro trimestre como o da festa dos centroavantes natos. A camisa 9 especializada em fazer em gols está de volta ao futebol brasileiro: Ronaldo, Washington, Keirrison e, vá lá, Josiel e Elton. Ontem foi mais um dia de gols, que é o melhor momento do esporte bretão.

Ronaldo furou, cabeceou na trave e fez dois belos gols, além de jogar os 90 minutos. Está voltando a ser um jogador normal. Parebéns à comissão técnica do Corinthians, que está sabendo dosar a euforia com o Fenômeno, lidando bem com a imprensa, a torcida e o elenco do Timão. Poderiam dar um workshop no Flamengo.

Mas esse time do Corinthians não me convence. Não acho estranho terem saído apenas com o empate contra a Ponte Preta. Foi uma partida entre dois times no máximo esforçados. A diferença, cada vez mais, está com os dois jogadores acima da média: Ronaldo e Dentinho.

Josiel vai pregando peças com a torcida e o técnico do Fla. Enquanto reserva, era artilheiro; uma vez titular, a média de gols ficou inversamente proporcional às obinices feitas em campo. Quando a diretoria traz um centroavante novo, o Oswaldo Montenegro da Gávea carimba 3 gols. Quem é o camisa 9, afinal?

Bela partida de Erick Flores. Olho no garoto, que tem tudo pra ameaçar o posto de Leo Moura (que já está de saída) com sobras.

O Vasco voltou ao caldeirão de São Januário e arrepiou um pouco sua torcida ao começar perdendo do Mesquita. Mas Rodrigo Pimpão e Jefferson não deixaram a peteca cair. O cruzmaltino bota um pé nas semifinais.

Foi só eu elogiar a eficiência do Botafogo ao enfrentar os pequenos para pisarem na bola. Victor Simões e Reinaldo (que golaço dele!) cumpriram com suas obrigações, mas a defesa falhou. E o time precisa urgentemente de um goleiro seguro. Renan e Castillo são ótimos para serem reservas dos reserva, e só.

E Celso Roth vai se segurando no comando do Grêmio. Como se já não bastasse o clima em torno de seu trabalho desde o começo do ano, Felipão ainda se insinua pra treinar o time. O frango do Aurora foi o parceiro de Roth para mais essa sobrevida.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Nada de novo

(Foto: Agência/Photocâmera)
Vence o Fluminense, com a virada da esperança. De novo, 3 x 1 após começar perdendo. Roger substituiu Fred e deixou o dele com estilo (acredite, isso aconteceu). Thiago Neves volta a ser o cérebro do time, tendo Conca a seu lado pra fazer a bola correr.

ATUALIZAÇÃO ÀS 17:02: Só agora vi o golaço de Conca. Messi faz escola com seus conterrâneos! Que beleza.

Destaque negativo para o fato de 5 mil tricolores com ingresso comprado não poderem entrar no estádio. A polícia alegou que o espaço destinado à torcida do Flu já estava plenamente ocupado. Não sabia que o Friburguense levava 5 mil pessoas a seu estádio...

O Palmeiras garantiu a vaga nas semifinais com dois gols do recém-chegado Ortigoza. Com o elenco que o Verdão tem, não sei se era necessário um atacante paraguaio. Mas já ajudou o time, não se pode negar. Se vingar, tomara que fique para o Brasileirão.

Amanhã, post sobre o momento de Dunga na Seleção Brasileira (e as "gafes" jornalísticas a respeito...).

terça-feira, 24 de março de 2009

Cotovelos doloridíssimos

A torcida do São Paulo deve estar rindo à toa. Ganharam tantos Campeonatos Brasileiros (e o clube é tão elogiado por isso) que está fazendo com que os demais façam malabarismos para não ficarem tão mal na foto.

Começou com a ridícula pendenga do Flamengo pela "taça das bolinhas". Ali, o objetivo era proclamar quem era o primeiro pentacampeão brasileiro. O tricolor paulista acabou com o imbróglio sendo hexa em 2008.

Agora, times que venceram a Taça Brasil e a Taça de Prata querem equivalência dos títulos ao Campeonato Brasileiro. O depoimento do presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, é exemplar:

"Parece que o mundo e o futebol brasileiro começaram apenas em 1971. É preciso reconhecer o que aconteceu antes. Ninguém aqui está querendo mudar o passado. É lógico e simples. Agora, não é porque é lógico que vai dar certo."

Belluzzo, é bom dizer, é um dirigente cuja mentalidade destoa do amadorismo oportunista de seus pares. Mas se equivoca em sua justificativa. Ninguém considera que o futebol começou em 1971, somente uma outra competição com outro nome. E que, na prática, era um campeonato nacional como as Taças anteriores. Se "ninguém aqui está querendo mudar o passado", então eu não entendi.

Por que essa necessidade de ser reconhecido pela CBF, uma vez que os referidos títulos já são assimilados? O Bahia já colocou a estrela da Taça Brasil de 1959 na camisa...

Cabe aos clubes fazer um trabalho de marketing e memória permanente para esclarecer às futuras gerações sobre o significado histórico das Taças. O Flamengo de 1987 (Copa União) e o Vasco de 2000 (Copa João Havelange) não perdem tempo discutindo se a CBF reconhece ou não. Simplesmente comemoram o que existiu dentro de campo.

Ou você não se impressiona que o Santos tenha vencido cinco Taças Brasil seguidas, de 1961 a 1965? E faz diferença se a entidade administrada pelo senhor Ricardo Teixeira reconhece ou não? Isso é apequenar as conquistas, não valorizá-las.

Agora vai!

O Flamengo anuncia a contratação de Emerson, artilheiro do campeonato nacional de futebol do Qatar. O atacante fez 33 gols em 29 jogos atuando naquele país.

Da última vez que o clube recrutou um goleador vindo do Oriente Médio... E olha que ainda veio fora de forma, pois o ritmo do esporte na grande nação futebolística do Qatar não é exatamente o mesmo do país pentacampeão do mundo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O "desjejum" foi premeditado

Se você comentasse com qualquer flamenguista, antes do clássico de ontem, sobre a possibilidade do time perder para o Vasco, não encontraria muitos discordantes. Quando a fase é boa e o clima também, é difícil o resultado em campo sair diferente.

O time da Colina jogou arrumadinho, mesmo após perder Carlos Alberto, e em nenhum momento se desesperou. Os desconhecidos vascaínos deram olé e, após golear o Botafogo, venceram o Flamengo com autoridade. Será que vem coisa melhor por aí?
(Foto: Marcelo de Jesus/Globoesporte.com)

O que falar do "barata voa" que o Flamengo se tornou? Sem comando dentro e fora de campo, sem elenco... Os que tem um pouco de talento parecem desgastados por 3 anos no clube: Bruno, Ibson, Juan, Leo Moura etc. Não dá pra esperar muito. É hora de renovação total.

O que não entendo é o esquizofrenismo da crítica esportiva em relação ao árbitro. Se o homem do apito é conivente com a violência, é omisso. Se resolve cumprir a regra e aplicar os cartões com critério, é muito rigoroso. Com exceção da expulsão de Carlos Alberto (ainda assim, a regra invoca o amarelo naquela situação, pois o árbitro não pode saber se o jogador ouviu o apito ou não), nenhum cartão foi absurdo.

Estamos tão acostumados a arbitragens ruins e com a supremacia do aspecto físico sobre a técnica (vide o "tanque" Adriano, jogador de Seleção e tudo), que estranhamos quando faltas pra cartão... recebem o cartão. E o árbitro ainda deixou barato para Bruno, que numa disputa de bola criminosa quase tatua as travas da chuteira no rosto de Edu Pina.

O Botafogo segue CDF: não deixa de fazer o dever de casa nunca. Mais um massacre contra um time pequeno, como deve ser sempre. O trio ofensivo Reinaldo-Maicosuel-Victor Simões é muito eficiente, e pode ser decisivo na final do campeonato.

O Fluminense mais uma vez saiu perdendo, porém tranquilizou a torcida a tempo. Fred estava lá pra conferir, mesmo sem jogar bem. Dificilmente estará fora das semifinais.

Em São Paulo, todo o blá-blá-blá em torno do velho Ronaldo e do novo Neymar. Dentinho ignorou os dois e achou uma brecha na defesa santista pra marcar o gol da vitória. As semifinais do Paulistão 2009 prometem.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Vestir a camisa?

Que nada, a onda agora é outra. Roberto Fernandes, que mal começou sua carreira como técnico, já ostenta as babaquices e os joguinhos de poder que muitos da classe adoram apresentar. Quando seu atleta vai mal no treino, recebe a vestimenta acima.

Pior do que isso, só mesmo o jogador de futebol dos dias atuais: tão sem personalidade que assimila uma decisão despropositada dessas.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Fredmania é boa pro Rio

(Foto: André Durão/Globoesporte.com)

Se São Paulo tem Ronaldo, o Rio tem Fred. O ex-atacante do Lyon retornou ao Brasil causando frisson na torcida, trazendo grandes esperanças de gols, embalando projetos de marketing e venda de camisas e sendo acompanhado passo-a-passo até sua estreia. Um fenômeno (sem trocadilho) que faz bem ao futebol carioca, como disse Júnior na transmissão da Globo ontem.

A diferença, além do histórico dos dois centroavantes, é que Fred não está em fim de carreira, nem acima do peso ou se recuperando de uma contusão sinistra. A torcida tricolor agradece e exultou com seus dois gols ontem, diante do Macaé.

Quando Parreira comete o milagre de trocar um de seus amados cabeças-de-área por um meia, a fim de virar o jogo contra um fraco adversário, nada pode dar errado. De resto, o que sempre deve funcionar: Thiago Neves, Conca, Everton Santos e Fred infernizando a defesa. Quando os laterais acertarem (e jogarem menos sozinhos), o Fluminense vai conseguir voos mais altos.

(Um parêntese: que mágica é essa dos dirigentes do Flu, que conseguem trazer Fred e Parreira e penhorar suas jovens promessas a fim de não serem punidos pela Justiça do Trabalho?)

O Botafogo ignorou a Cabofriense. Ignorou, não: abusou dela. Com grande variação de jogadas, muita velocidade e segurança pra tocar a bola, o time de Ney Franco acalma a torcida após a goleada do meio de semana.

Maicosuel caracteriza-se cada vez mais pelo atrevimento e pela ousadia na hora de tentar as jogadas. Há quanto tempo não aparecia um jogador assim em General Severiano? De novo, o futebol carioca agradece.
(Foto: Ricardo Cassiano/Lancenet)

E o Flamengo? Ah, o Flamengo... O malcriado Bruno falhou feio e o tigrinho do campeonato fez 1 x 0, bagunçando o instável estado emocional do elenco rubro-negro. Levando em consideração a defesa milagrosa do goleiro Marcos Paulo no fim do jogo (em chute de Maxi), dá pra ver que a noite não era do Fla.

A torcida tem que parar com a dor-de-cotovelo por Obina. O clube está sem grana e não vai contratar outro atacante tão cedo. Josiel comete as mesmas tosquices que o baiano - mas tem média de quase um gol por jogo! Na fase atual, é reclamar de barriga cheia.

O Vasco completa os 100% com gol de Fernando, cabeceando de costas. Um indício de que a fase é boa mesmo.

Em São Paulo, o Corinthians não conseguiu vencer o Santo André, e Ronaldo agradece. Já parece fundamental ao time mesmo sem estar plenamente recuperado.

O Palmeiras segue no ritmo de Keirrison, e pra mim é favorito ao bicampeonato. Depois da Copa de 2010, o jovem centroavante pode (e deve) aparecer na Seleção Brasileira.

O São Paulo volta a jogar um futebol eficiente, guiado por Hernanes. Ao lado de Ramires, do Cruzeiro, é a maior injustiça das não-convocações de Dunga. E pensar que esses dois assistem pela TV o "craque" Josué com vaga garantida pra 2010...

Pelé fez escola e deixou seguidores. Se não foi no talento eterno, ao menos na idade pra ser lançado no futebol. Depois de Robinho e Diego, o Santos lança o garoto Neymar, igualmente cercado de expectativas. Que Vagner Mancini tenha os pés no chão pra não "queimar" a nova promessa. (Foto: Agência Estado)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Como quem não quer nada...

(Foto: Cezar Loureiro / O Globo)
E lá vem o Vasco, subindo a ladeira... Na humildade, o time de Dorival Júnior arrepiou pra cima do Botafogo, no primeiro clássico carioca de 2009 com futebol de clássico. O jogão de ontem dá esperanças à torcida cruzmaltina de conseguir algo mais nesse campeonato.

Carlos Alberto deu um passe magistral no primeiro gol (repare, na câmera por trás, no "passo de dança" de dois marcadores do Botafogo), e Elton vai se firmando como o goleador da Colina. O sistema defensivo de Ney Franco ruiu com a pressão vascaína desde o primeiro minuto de jogo, com uma linha (burra) de impedimento que deixou Renan vendido.

Se até o instável goleiro Tiago fazia uma partida quase perfeita, o resto do time do Vasco acompanhou o ritmo. Rodrigo Pimpão pode não fazer gols, mas deu assistências precisas. Só não deu pra entender a violência da partida. As expulsões, justas, até fariam sentido diante do desespero botafoguense. Mas o bom volante vascaíno Nilton resolveu juniorbaianar o adversário por quê?

Vamos ver como se comporta a diretoria do Botafogo depois dessa derrota. Deve levar em conta todo o trabalho de Ney Franco, que já tem o título da Taça Guanabara. Mas nada é tão óbvio na cabeça dos dirigentes de futebol.

Os torcedores vascaínos podem ficar tranqüilos: a serenidade de Dorival Junior manterá os ânimos onde devem estar.

quinta-feira, 12 de março de 2009

As "nações" agradecem


Quando todos pensavam que o Flamengo ia afundar de vez devido ao clima tenebroso no clube, ele faz a sua melhor atuação em 2009. Pode-se dizer que a expulsão de Ibson foi excesso de vontade, e que com um a menos é difícil manter o nível. Mas até esse momento o time convenceu.

Bruno não era ameaçado, a zaga segura, marcação sobre pressão, vontade de ganhar, nada de acomodação. Essa fórmula deu ao Fla a vantagem de 2 x 0 com sobras. Dessa vez, Léo Moura foi o nome do jogo com passes precisos, uma bela cobrança de falta e oportunismo para conferir lá na frente.

Destaque também para Zé Roberto, que se multiplicou em campo, para a boa cobrança de falta de Juan (com grande ajuda de Bruno) e para o jovem Wellington, que possui categoria e seriedade. Mesmo com Josiel fazendo gol, o ataque ainda é um problema, e Paulo Sérgio sofre da "síndrome de Rodrigo Mendes": pode até fazer gol de título que não cairá nas graças da torcida.

Ao final do jogo, a torcida gritou o nome de Andrade enquanto Bruno dava entrevista. "Se eu sou o problema, me mandem embora". A torcida enalteceu seu ídolo e o aspirante a tal se sente ofendido, a ponto de vislumbrar sair? Ê ato falho...

O Fluminense venceu na estreia de Parreira, mas o técnico (que adora um sistema defensivo) ainda terá muito o que acertar. Mas com Thiago Neves, Conca, Everton Santos e Fred o Flu tem um ataque de impor respeito.

Ronaldo começou jogando e, mais uma vez, mostrou que talento não se desaprende (mas precisa de uma ajuda da forma física). Além de bons chutes, fez um gol de quem sabe o que faz. Se a recuperação do centroavante se consolidar, Mano Menezes e sua prudência serão os grandes responsáveis.

E a torcida mais uma vez execra Douglas por não passar uma bola para Ronaldo. Esse pessoal não tem mais o que fazer, não? Coloquem a pressão em cima de quem já foi craque e quer voltar, e não num mediano jogador. Aliás, um jogador que a torcida corintiana enaltecia como grande meio-campista nas vacas magras da série B...

terça-feira, 10 de março de 2009

É de outro mundo

Bruno, goleiro do Flamengo, poderia estar na Seleção. Em território brasileiro, é um dos melhores na posição. Em território mental, é dos piores.

Após arrumar confusões deixando de almoçar com o grupo que estava concentrado, levar cartões por faltas perigosas na hora de catar a bola, agora esculacha Andrade após um mísero rachão.

"Você como jogador ganhou tudo, mas como treinador não ganhou nada!", esbravejou Bruno. E o que o goleiro já ganhou como jogador, a ponto de usar dessa arrogância com uma das lendas vivas do Fla?

E a ignorância é tanta que Bruno não se deu conta que Andrade nunca seguiu a carreira de técnico. Ele é auxiliar, funcionário do clube e, no máximo, técnico interino. Ou seja, Bruno perdeu ótima oportunidade pra ficar quieto.

Agora vem os panos quentes, todos dizem que foi incidente de rachão, a diretoria sem moral e o técnico sem pulso firme deixam rolar. Mas a marra de Bruno não é rara em jogadores que mal começam suas carreiras e já se acham no topo do mundo.

Repito: Bruno é um dos melhores goleiros do Brasil, faz milagres no gol do Flamengo. Mas isso não lhe dá o direito de pisar na história do clube, seja por que motivo for.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Ronaldo: o exagero e ambiguidade

O Corinthians acaba de contratar um reforço estelar. Craque de 32 anos que fez história na Seleção Brasileira, tendo participado de 3 copas: numa delas, foi o principal jogador do Brasil, além de artilheiro. No entanto, após graves contusões nos joelhos e com uma vida boêmia questionável, ninguém sabe se poderá render o que dele se espera. Certo é que só a sua presença como jogador do Timão já começa a encher os cofres do clube.

De quem você acha que o parágrafo acima está falando? Ronaldo ou Garrincha? Acertou quem disse os dois. As semelhanças entre os atletas nesse momento da carreira são impressionantes, e já tinham sido abordadas pelo jornalista Mauricio Stycer em seu blog.

Quais seriam, então, as diferenças? A primeira é que Mané tinha que entrar em campo, cheio de infiltrações nos joelhos, para que o Corinthians ganhasse uns trocados. Ronaldo sequer precisa treinar para que a instantânea exposição na mídia e o afã de patrocinadores de toda ordem surja aos pés do departamento de marketing. É o nosso Beckham.

Outra diferença é que Garrincha era um alcóolatra inveterado. O Fenômeno parece impressionar também ao virar copos, mas nada que chegue ao quadro do grande camisa 7 da Seleção.

Quem acompanha este blog percebe que não tenho dado tanto destaque aos fatos sobre Ronaldo. É proposital, e nada tem a ver com o fato de ser carioca ou flamenguista (não me senti "traído" pelo jogador só porque ele nào acreditou na conversa fiada dos dirigentes rubro-negros). Simplesmente não sou adepto da bajulação excessiva nem gosto de supervalorizar a realidade.

Mas é assim que vive Ronaldo e sua corte midiática (que inclui torcedores). Ele respira, sai de casa, entra no carro, espirra, treina, não treina, muscula, não muscula, dorme, acorda... e não sai da nossa TV, dos nossos jornais, das nossas revistas. E isso sem sequer entrar em campo!

Quero deixar bem claro que não vaticino o pior para Ronaldo. Se ele voltar a jogar bem (e quiser viver uma vida de atleta por isso), é mais um craque em território brasileiro. Mas não adianta exigi-lo antes da hora nem exagerar nas celebrações de sua recente volta.

De tanto ser paparicado, Ronaldo ficou mal acostumado. Gosta desse trato, mas fica chateado quando é flagrado em situações que ele preferia ter deixado ocultas. Não entende por que a tal corte o expõe na mesma proporção dos momentos de sucesso.

Paradoxalmente, é na corte que Ronaldo busca a reparação. Caiu na gandaia com travestis? Entrevista exclusiva no Fantástico (e em sua massiva audiência, torcedores). Ficou na esbórnia e fugiu da concentração prestes a estrear pelo Corinthians? Pito de Fátima Bernardes em outra exclusiva, dessa vez para o Jornal Nacional.

E se, na sua volta, não recebe um passe do meio-campo Douglas, acabam com a carreira de Douglas. Se faz um gol empatando um clássico no último minuto (quer coisa mais épica?), está a um passo da Seleção Brasileira. Afinal, o que é exagero e o que é realidade nessa história toda?

Fato: Ronaldo está voltando aos poucos, ainda está fora de forma, mas parece não ter perdido a característica da arrancada em direção ao gol. Só. O mais é expectativa desnecessária.

Vamos ser proporcionais, minha gente. Vamos acompanhar o Fenômeno da maneira que ele deve ser acompanhado. Deixar isso virar circo de novo é crueldade (e encheção de saco) com quem acompanha futebol. E pode ser crueldade até com Ronaldo, se ele voltar a viver no mundo da lua por causa disso tudo.

Palmo a palmo

(Foto: Ivo Gonzalez/O Globo)

Assim vai ser o segundo turno do Campeonato Carioca, a Taça Rio. Nem mesmo o já finalista Botafogo parece abrir mão de eliminar os dois jogos extras (embora a Federação e os próprios clubes nunca dispensem a igualmente extra renda da TV e da bilheteria). Mas, como diria o Silvio Lancelotti, o título do certame está mais aberto do que nunca.

O Flamengo jogou um primeiro tempo bom, com serenidade pra tocar a bola e esperar o momento certo do gol. Só Juan destoava, estava visivelmente fora de ritmo de jogo. E assim foi, quando o bom zagueiro Douglas abriu o placar. Mas no segundo tempo o nervosismo tomou conta do Fla quando, após seguidos erros de cobertura no lado esquerdo, levou o empate da Cabofriense.

A afobação tomou conta, e Leo Moura acertou dois cruzamentos que foram bem aproveitados por Ibson e Everton. Mas o marido da Perla não jogou nada além disso, diga-se de passagem. Todo o oba-oba em torno de sua evolução é ilusório. Cuca não consegue manter o time num estado psicológico necessário para reverter partidas fáceis com calma. E o técnico agora está na dúvida entre Josiel, Obina, Maxi ou Paulo Sérgio. Boa sorte...

O Fluminense traz de volta Parreira, que sempre fez boas campanhas com o clube. Chega com vantagem pois já pôde perceber as fragilidades do time, ao contrário de Renê Simões e sua sofrida vida de técnico brasileiro, que teve que (tentar) fazer isso durante duas competições.

O tricolor só conseguiu vencer o Mesquita no finalzinho, com (mais um) gol de Everton Santos - um dos mais regulares e eficientes atacantes desse início de temporada. Se conseguir um bom entrosamento com Fred, a torcida do Flu poderá finalmente dormir em paz após Roger e Leandro Amaral.

O Botafogo poderia ter vencido com mais facilidade o time mais fraco do Carioca 2009, o Tigres. Dá-se o desconto da decisão de domingo passado e da partida pela Copa do Brasil na quarta. Bom ver Victor Simões de volta, e fazendo gols.

O Vasco não deu sustos na torcida, vencendo o Friburguense por 3 x 0 e com sobras. Carlos Alberto, além de fazer gol, não levou cartão amarelo - é um avanço. Se não perder pontos em casa (ou no tapetão), o cruzmaltino vai incomodar nessa Taça Rio.

***

Ronaldo fez o gol do empate no clássico contra o Palmeiras. Próximo passo: pressão em Dunga para levá-lo à Copa de 2010. Ainda nesta semana, post especial sobre o tema fenomenal.

ATUALIZAÇÃO ÀS 22:31:começou.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Pro gasto

(Foto: Agência/Photocâmera)

Quem deixou de assistir aos jogos de ontem da Copa do Brasil por preguiça, fez jus ao espírito dos jogadores em campo. Fluminense e Botafogo não precisaram (e nem quiseram) se esforçar muito para seguir à próxima fase da competição.

O alvinegro se deu bem, pois eliminou o jogo de volta e vai enfrentar o Americano-RJ, sem viajar longas distâncias. Atenção para a temporada 2009 de Leandro Guerreiro, que vai se tornando um jogador versátil e uma boa opção de jogadas de ataque. Jean Carioca é outro que apareceu bem no time.

O Fluminense aparece mais na mídia por suas badalações fora de campo do que pelo que faz nos 90 minutos. Everton Santos deixou o dele, como sempre. De resto, nada de mais.

Renê Simões começa a ser publicamente fritado, uma vez que o dono... ops, o patrocinador do Flu já opina abertamente sobre o trabalho do treinador. O curioso é que, depois de dar o seu diagnóstico, diz que a decisão sobre a mudança fica a cargo do coordenador de futebol do clube. Conta outra...

Ao menos, o tricolor já tem dois reforços: a contusão de Leandro Amaral e a chegada de Fred. Se continuar com suas características, finalmente haverá nas Laranjeiras um centroavante nato.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Paz, enfim

(Foto: Carlos Mota/globoesporte.com)

Se o salário de dezembro sendo pago logo antes da partida já ajudou, a fragilidade do Ivinhema e o clima de festa (de um público que poucas vezes viu o rubro-negro de perto) só completou a alegria do Flamengo. Mas justiça seja feita: dessa vez o time jogou bem e com seriedade, diferente de outros confrontos com times pequenos em 2009.

Os jogadores parecem estar mais à vontade com o "novo" esquema de Cuca. A camisa não pesa pra Everton Silva, que cumpriu a híbrida função de zagueiro-ala-lateral com empenho. Kléberson jogou bem, mas é irregular. Ibson e Leo Moura tendem a melhorar na criação, e Zé Roberto fazendo gols é o que o ataque precisa. Pela primeira vez no ano se viu o Fla trocando passes sem afobação, o que é um avanço.

O Internacional, grande favorito para tudo que é título em 2009, quase apronta pra sua torcida em casa. O União Rondonópolis não se enquadra no estereótipo de equipes como o Ivinhema, e jogou um futebol redondo e consistente. Só na raça mesmo o Colorado conseguiu passar à segunda fase da Copa do Brasil.

Na Libertadores, o Brasil está bem na fita. O Sport vai queimando minha língua e fazendo uma campanha segura, vencendo a atual campeã LDU em casa. Sem alarde, o Leão da Ilha já é lider de seu grupo.

O Cruzeiro venceu fora de casa, mas Kléber foi novamente expulso (e dessa vez, multado pela diretoria). Até o dia em que a balança pesar pro outro lado - sua ausência em campo custar uma vaga ou um título - o esquentado e eficiente atacante não sofrerá maiores pressões por seu comportamento em campo.

O Palmeiras destoa e perde a segunda seguida, dessa vez em casa. O clima, que estava ótimo pela grande campanha desde janeiro, cheira a crise se o Verdão tropeçar diante do Corinthians domingo. Espero que isso não aconteça, pois o time de Luxemburgo joga um futebol ofensivo, vistoso e com o garoto Keirrison merecendo voos mais altos.

E o Corinthians? Contando com o enorme apoio do "Big Brother Ronaldo" (a puxação de saco midiática em torno do "atleta"), fez 2 x 0 no Itumbiara e relaxou - o que quase lhe obriga a fazer o jogo de volta.

Ronaldo enfim estreou, dando uns piques aqui e ali, uma meia cabeçada acolá. Nada além do esperado para um jogador que está há um ano parado e atua apenas 27 minutos. Mas continua visivelmente acima do peso, com aquela camisa esticada na frente por causa da barriga. Vai ter que comer muito (pouco?) feijão-com-arroz pra ser uma opção digna pro ataque do Timão.
(Foto: Carlos Costa/Lancenet)

terça-feira, 3 de março de 2009

Apito crítico

(Fotos: Carolina Lessa)

José Roberto Wright foi um dos principais árbitros brasileiros, com uma longa carreira (quase 25 anos). Hoje é comentarista da TV Globo e busca analisar friamente o trabalho de seus colegas atuais, tendo que se equilibrar diante da discordância, às vezes furiosa, do torcedor-telespectador. Nesta entrevista, Wright fala da profissionalização dos árbitros, da tensa relação com os jogadores em campo, da berlinda da tecnologia e das câmeras. E critica a condução atual da Comissão de Arbitragem do Rio de Janeiro.

FUTEBOL RACIONAL – O que leva alguém a querer ser árbitro de futebol, uma profissão que está sempre no centro das polêmicas de um esporte movido a paixão? O que levou você a ser árbitro?

JOSÉ ROBERTO WRIGHT – Há uma diferença da arbitragem de hoje para a arbitragem da época de 1970 e 80, quando o árbitro ganhava bem para apitar um jogo de futebol. Ele ganhava um percentual da renda do jogo, então uma motivação era o aspecto financeiro, extremamente favorável - e hoje nem tanto. Eu cursava a faculdade de Educação Física e abriram inscrições para o curso de árbitro, na Federação Carioca de Futebol. Fiz para ter uma especialização, para mais tarde usar na minha carreira profissional. Só que o curso era muito bem elaborado, me deu uma base muito grande. E eu gostei da atividade. Me formei em 1971, em 1974 já tinha apitado minha primeira partida profissional, em 1978 já era do quadro da Fifa.

FR – Você apitou até quando?

JRW – Até 1994. Na Copa daquele ano fui comentarista mas em 1990, na Itália, apitei as semifinais.

FR – Além dessas que você colocou, quais as outras diferenças da profissão de árbitro daquela época para a atual?

JRW – Era muito diferente. Naquela época os árbitros eram formados com muita liberdade, de acordo com as características da sua atuação. Um era disciplinador, outro mais acomodado... Cada um tinha um estilo. E os instrutores te davam um embasamento [técnico] muito bom para você atuar de acordo com o seu perfil.

FR – E hoje?

JRW – Hoje robotizaram a arbitragem. O árbitro tem que levantar o braço inteiro se for tiro indireto, se o vento estiver a noroeste tem que levantar metade, se for a boroeste faz de outro jeito... (risos) Ora, fizeram um robô que não dá certo! Se você não tiver criatividade, se não tiver como conduzir o jogo e ir adquirindo experiência... Nenhum árbitro é igual ao outro, cada um tem uma maneira de ver as coisas. E por isso a arbitragem caiu bastante.

FR – Ou seja, na sua época eles investiam mais no perfil do árbitro.

JRW – Na verdade eles investiam no geral, mas os instrutores eram bons. Por exemplo, Eunápio de Queiroz, um ex-árbitro da década de 50 e 60, foi um instrutor fantástico. Eu tive a oportunidade de fazer vários cursos internacionais com bons instrutores. Hoje você conta nos dedos um instrutor bom que consegue elaborar um trabalho para que surja um bom árbitro. Com exceção do Rio Grande do Sul e São Paulo, que tem árbitros com um padrão bom. O Rio de Janeiro já foi um celeiro de bons árbitros durante décadas e hoje não tem ninguém.

FR – Como é a situação profissional dos árbitros hoje?

JRW – Eles ganham uma taxa fixa... É outra diferença comparando à minha época: eu tinha percentual de 1% na renda do jogo, e peguei o futebol brasileiro com 100 mil, 150 mil pessoas no estádio em vários jogos. Então, quanto mais gente, mais você ganhava. O árbitro saía do Maracanã com 8, 10 mil dólares. Hoje é uma renda fixa, cerca de 2 mil e quinhentos a 2 mil e oitocentos reais e o árbitro ainda paga imposto de renda, ISS... Ele é descontado em quase 40 %, é desestimulador.

FR – Então os árbitros não são profissionalizados: eles exercem uma outra profissão e apitam jogos.


JRW – Sim, mas na minha época também era assim: eu fui professor de Educação Física, dei aula em colégios municipais, no Colégio Pedro II. Sempre trabalhei muito, acordava às 6 da manhã para dar aula na PUC e mantinha minha forma atlética apitando dois jogos por semana. Então eu não dependia do futebol.

FR – Mas você acha que seria uma boa idéia profissionalizar os árbitros?

JRW – O problema é a questão legal. Para ser árbitro [do quadro] da FIFA você entra com 25 anos de idade, e aos 45 você sai. E no Brasil, se você não tem 65 anos de idade ou 35 de contribuição, não se aposenta. Então, aos 45 anos de idade, o árbitro vai fazer o que até chegar aos 65? Eu sou favorável ao sistema atual, desde que pague bem. O desconto do INSS é uma coisa absurda, pois você não tem o reconhecimento [legal] da profissão de árbitro. Então você é descontado pra que, se não vai ser aplicado na sua aposentadoria? Não tem benefício.

FR – Você seria a favor da criação de uma “FIFA da arbitragem”, isto é, uma associação internacional de árbitros que escalaria os árbitros nas diversas competições?

JRW – Não tem como. Pelo seguinte: você tem diferentes culturas, diferentes métodos de aprendizado da arbitragem. Então você vê a FIFA convocando em algumas Copas do Mundo árbitros de Vanuatu, que não tem experiência. O sistema que existe, na minha opinião, é o correto: a FIFA e as Confederações dos continentes escalam para os jogos internacionais, a Confederação do país para os jogos nacionais e as Federações regionais, idem. Acho que esse caminho é o melhor, não adianta mexer muito não, porque funciona.

FR – Mas quem levanta essa questão argumenta que a associação garante mais independência ao árbitro, principalmente em relação às federações...

JRW – Se você considerar o Brasil, em termos de [relações com a] Federação, realmente é um problema. O Eduardo Vianna, o “Caixa d'água”, foi um problema muito sério para a arbitragem carioca. Se o árbitro não era do seu gosto, ele pressionava, tirava, fazia e acontecia. Mas eu nunca vi, em todos esses anos, por parte da CBF nenhuma ingerência para que o árbitro favorecesse A, B ou C.
Houve uma época em que aconteceram problemas, como no caso do Ivens Mendes, então presidente da comissão de arbitragem, que foi um caso sério porque ele tentou fazer [carreira] política utilizando o cargo. Mas se analisar friamente você conta nos dedos os escândalos de arbitragem. Teve o Edílson Pereira, que foi o último caso [em 2005], o Leiria, há 30, 40 anos atrás. É muito difícil.

FR – Por que a arbitragem carioca está tão ruim?

JRW – Porque é mal dirigida. Há muito tempo, não é de hoje. A gente volta ao Eduardo Vianna, um câncer para a arbitragem do Rio de Janeiro. Ele manipulava, induzia os árbitros a um resultado, era um caos total e absoluto. Entrou o Rubinho (Rubens Lopes, presidente da Ferj), com um perfil diferente, que colocou o Jorge Rabello [para a Comissão de Arbitragem], que é presidente do Sindicato e da Cooperativa de Árbitros. É um cara que não é um exemplo, foi um árbitro de regular pra ruim. E eu acho que pra você cobrar com veemência tem que ter sido um árbitro muito bom. São dois anos dessa direção e os bons árbitros, como o Pablo Alves, não deslancham, pela maneira que o departamento é conduzido.
Por exemplo, o Rabello, numa palestra, foi firme quanto a proibir os árbitros de darem entrevista. Isso é uma burrice! Se teve algo diferente no jogo, que marcou sua atuação, ele tem que ter o direito de falar a versão dele. Senão vai ficar a versão do jogador, do jornalista...

FR – A relação entre tecnologia e arbitragem é outra polêmica sempre levantada. Como você acha que isso se resolve?

JRW – É muito difícil. Eu trabalho na TV Globo e sei o custo de colocar uma transmissão no ar, o número de pessoas [envolvidas], são gastos milhares e milhares de reais. E você tem um problema: num jogo grande, principal, você pode ter a TV ali para tirar a dúvida ou até aumentar a dúvida. Só que existem partidas que não tem condição técnica nem viabilidade econômica [para ter uma transmissão]. Por exemplo: Bangu x Campo Grande, o clássico da Zona Oeste do Rio. E aí? Como é que você vai gastar tantos mil reais pra colocar uma tecnologia nesse jogo?

Então acho que a tecnologia a ser adotada é pra ver se a bola entrou no gol ou não (um sensor é colocado dentro da bola e, ao cruzar a linha do gol, ela emite um sinal vibratório aos bandeirinhas e árbitros). Eu faço parte da comissão da FIFA que estudou o assunto e, em reunião no dia 12 de janeiro deste ano, e foi descartado pelo presidente [Joseph] Blatter qualquer tentativa de se colocar isso em vigor. Ficou caro e, se você considerar o número de situações que ocorrem pra ver se a bola entrou ou não, o custo vai ser muito alto pra pouca solução.

FR – Mas nenhuma outra tecnologia pode ser aproveitada para ajudar a arbitragem?

JRW – Acho que há coisas existentes que já funcionam: o ponto eletrônico entre árbitro e bandeirinhas, por exemplo. Só não pode dar defeito, como aconteceu num Palmeiras x São Paulo no ano passado. Estão tentando, pela Uefa, fazer um teste colocando árbitros atrás do gol, mas não vai funcionar.

FR – Isso foi feito nas finais do Campeonato Carioca de 2008.

JRW – É, mas aquilo ali foi um absurdo. Não tinham autorização [da FIFA], nenhuma abordagem foi feita sobre como ia funcionar esse sistema, foi uma invenção do Jorge Rabello (presidente da comissão de arbitragem carioca). E nessa reunião do dia 12 mostraram um vídeo sobre o assunto, em que um pênalti “sem-vergonha”, que aconteceu a três metros do árbitro e ele não deu, porque não estava de frente pra jogada. E não tinha rádio comunicador, nem ponto eletrônico, nem bandeira.

FR – Ele não tem autoridade para marcar...

JRW – Ele poderia até ter autoridade, mas com rádio e com bandeira. Imagine sem isso! É a mesma coisa que tirar o apito do árbitro.

FR – Ainda quanto à tecnologia: e o uso da TV para tirar dúvidas de lances?

JRW – A TV já é utilizada nos problemas de indisciplina desde 1982. Teve o caso clássico do Tassoti, da Itália, que na Copa de 94 deu uma cotovelada num jogador em campo...

FR – Que não foi punido em campo, porque o árbitro não viu.

JRW – Pois é, aí eu acho válido, quando o árbitro não viu. É uma maneira que você tem de coibir [a indisciplina]. Fiz uma crítica no ano retrasado, quando começaram a querer mudar decisão de árbitro [a partir das imagens da TV]. “A regra determina que o árbitro é boçal e soberano”, dizia o Amílcar Ferreira, árbitro de Niterói. Então, nessa situação acho muita ingerência. Se o árbitro não viu, tudo bem. Se o árbitro viu e não marcou, é outra história. Puna-se o árbitro, mas não tente mudar o que aconteceu [em campo].

FR - Pra finalizar esse assunto: você é um dos poucos comentaristas de arbitragem que costuma dizer que é fácil analisar o lance vendo replay e na câmera lenta, e que o árbitro tem que decidir na hora. Isto é, você contextualiza o seu lugar como comentarista e o lugar do árbitro. Mas como o telespectador pode avaliar a qualidade da arbitragem diante dos vários recursos da TV? Como saber se aquela atuação foi boa ou ruim, já que o árbitro fica tão exposto? O caso do Carlos Alberto Simon, árbitro no jogo Cruzeiro x Flamengo, suscitou muitas discussões nesse sentido.

JRW – Mas aí está o grande problema: nesse jogo, o Diego Tardelli (atacante do Flamengo) foi tocado pelo zagueiro. E ele vira o corpo, mesmo desequilibrado, pra voltar. Só não volta porque o joelho do adversário deu um toque na perna dele. No slow motion é fácil [ver isso]. Existem situações que a TV de um ângulo apresenta o lance de uma maneira e, de outro ângulo, [apresenta] de outra maneira. Um estudo feito há muitos anos, com relação a pessoas que viram acidentes, cada uma descreve [o mesmo acidente] de uma maneira. Então, o telespectador em casa não vai fazer uma análise fria como a que eu faço, por eu ser um profissional da arbitragem. O torcedor vai ficar isento com o time dele jogando? Não vai mesmo. Ah, foi pênalti, não foi, é uma discussão sem fim. E é bom que seja assim. Se fosse uma coisa mecânica, seria chato, desagradável. Não ia ter graça, o futebol ia ficar igual a badminton, boliche.

FR – Você não precisa dizer quem. Mas já teve árbitro que veio tirar satisfação contigo depois de algum comentário seu?

JRW – Não, nunca. Eu sempre procuro fazer um comentário do que eu acho que é. Não sou o dono da verdade, mas estou dando a minha ótica, a TV me paga pra isso. O árbitro pode até ficar chateado. Por exemplo, depois desse Cruzeiro x Flamengo eu estive com o Simon numa palestra em Teresópolis e percebi que ele estava magoado. Mas eu tenho que falar como vi o lance. Quantas vezes eu já voltei atrás, vi que estava errado...

FR – Muita gente vê a FIFA como conservadora quanto a mudança de regras para o futebol em geral, não só pra arbitragem. E no Campeonato Paulista já fizeram várias experiências, como os dois árbitros em campo, tempo técnico, limite de faltas... Como você vê essa questão pro futebol moderno?

JRW – A regra do futebol é uma coisa fantástica. São 17 artigos e quem lê vê que é uma coisa simples, objetiva e que funciona para o esporte de maior paixão do mundo que é o futebol. O que acontece? O órgão que introduz mudança nas regras é o International Board, que antigamente era composto pela Escócia, Irlanda, País de Gales e Inglaterra. Esses quatro países determinavam a regra [do futebol] no mundo. Há 15, 20 anos atrás houve uma mudança: a FIFA foi incorporada a essa entidade com quatro votos e, pra você mudar a regra, é preciso ter dois terços dos votos. Então, se a FIFA não aprovar, morreu. E houve alterações que foram interessantes. Por exemplo, o goleiro não pode pegar a bola com a mão se for atrasada com o pé, que era um lance em que se perdia muito tempo de jogo. Antes era impedimento se o jogador estivesse na mesma linha do defensor, hoje não é mais. Houve mudanças objetivas e que funcionam.
(OBS: o International Board se reuniu no final de fevereiro e aprovou o uso de auxiliares atrás dos gols. O uso do cartão laranja - um intermediário entre o amarelo e o vermelho, com expulsão temporária - foi vetado.)

FR – E o limite de faltas?

JRW – O limite de faltas, numa quadra de futebol de salão, funciona por que é [um espaço] pequeno. Num campo maior, uma coisa que funciona é o que o Wilson Seneme fez no jogo Palmeiras x Ponte Preta: ele deu o cartão amarelo para um jogador gesticulando que ele tinha feito uma, duas, três faltas. Ou seja, acúmulo de faltas, cartão amarelo, acho que funciona. O que é difícil é o árbitro ter a percepção, num jogo de muitas faltas, que determinado jogador está fazendo mais faltas do que os outros.

FR – Hoje você ainda vê árbitros de diferentes estilos: há aqueles que mostram logo o cartão, outros que discutem, conversam com os jogadores. E o cartão foi inventado para ajudar o árbitro quando ele não falava o idioma dos atletas. É possível um árbitro apitar um jogo calado, só com os cartões?

JRW – Pode, mas você, como árbitro, ganha muito o jogo no grito. Até com o apito: se você dá uma soprada fraca, fazendo aquele som baixinho, depois que o jogador dá um entrada daquelas no outro, como é que fica? Mas se você já apita forte depois de uma jogada dessas, é diferente. E a outra maneira é pelo grito. Eu peguei uma época do futebol muito difícil. Na América do Sul, em Libertadores, o jogador argentino... Cansei de peitar, pisar no pé do cara, empurrar com o cotovelo. Porque, se não fosse assim, você não levava o jogo, com cinco minutos tinha que expulsar todo mundo.

FR – Tem que rolar uma intimidação por parte da arbitragem...

JRW – Na minha ótica, sim. Outros árbitros não tem isso. Fiz um jogo com o Romualdo Arppi Filho em Medellín, na Colômbia, com ele apitando. E o capitão do Nacional fez o diabo dentro de campo. Acabou o primeiro tempo eu fui no Romualdo e falei: “Você tem que fazer alguma coisa, o cara tá fazendo o que quer!”. Ele disse: "Deixa comigo, eu falo com ele...". Ele levou o jogo bem, sem expulsar e ainda saiu conversando tranqüilamente com o capitão. Era a característica dele. Se fosse eu, já tinha expulsado de primeira...

FR – É, a gente pôde ver naquela vez que você usou o microfone em campo.

JRW – Pois é, cada jogador é uma história. Os abusados a gente tem que cortar logo. Outros a gente fala: “você sabe jogar, pra que fazer isso?”. Aí o cara cai na realidade, pede desculpas.

FR – Na sua época, qual o jogador mais chato em campo?

JRW – O Dé, que jogou no Botafogo, e era até gente boa. Orlando, lateral-direito do Vasco, que passava a mão na cabeça de um jogador caído no chão, você achava que ele estava consolando, aí ele puxava o cabelo do cara. Se eu não estivesse atento, só via o cara levantando, reagindo e expulsava esse, e não o Orlando.

FR – E o contrário? Aqueles que eram mais respeitosos com o árbitro?

JRW – Ah, teve vários. O Zico, por exemplo, que nunca deu trabalho. Quando o cara é bom, não precisa apelar. Quando é ruim, ele tem que criar um problema, uma dificuldade – Joel Santana, por exemplo, falava muito no ouvido do juiz.

FR – Você acha que o jogador, atualmente, “peita” mais o juiz do que antes?

JRW – Acho, e isso é culpa do árbitro, que não se impõe.

FR – De “bate-pronto”: qual o melhor árbitro brasileiro na atualidade, e por quê?

JRW – O Leonardo Gaciba seria o meu escolhido para a Copa de 2010, mas ele teve uma lesão e vai o Simon, para sua terceira Copa do Mundo. Ele fez uma boa partida na Copa de 2002 e não foi bem na de 2006. Mas eu acho que é melhor você fazer uma Copa e ser o melhor ou ser medíocre em três. O Wilson Seneme é um árbitro regular, mas nada de mais. Mas não há ninguém excepcional.

domingo, 1 de março de 2009

Os operários venceram

Léo Silva, Lucas Silva, Wellington Júnior, Victor Simões... Parece lista de chamada na escola, mas são os campeões da Taça Guanabara. Sem holofotes nem grandes estrelas, seguindo o estilo do técnico Ney Franco (mineiro, por sinal), o Botafogo não só chegou à final do primeiro turno como a jogou com muita autoridade. Ainda com o 0 x 0 no placar dava pra ver quem merecia o título.

O Glorioso jogou assumindo sua condição de clube grande diante de um pequeno. Porém, sem soberba, mas com postura e toque de bola. Tirando individualismos aqui e ali, o Botafogo foi um time compacto, sólido na defesa e no meio-campo, sempre rondando perigosamente a área adversária.

Ney Franco parece ter evoluído, uma vez que não se preocupou só em se defender. É certo que Lucas Silva ia ser substituído antes mesmo do segundo gol para dar lugar a um volante (aliás, lindo passe de Juninho) mas Leandro Guerreiro jogou boa parte do jogo tentando o ataque por orientação tática. Reinaldo voltou a mostrar oportunismo, e Maicossuel só precisa dominar a ansiedade para fazer partidas mais decisivas (desperdiçou muitos contra-ataques).

O Resende já tinha feito sua façanha ao vencer o Flamengo. Não é um time ruim, mas sentiu o golpe de 75 mil botafoguenses lotando o Maracanã cheios da confiança que o time passava do gramado. Tirando uma cabeçada à queima-roupa bem defendida por Renan, o time do sul fluminense não ameaçou o Botafogo.

Garantido na final, o alvinegro relaxa para disputar a Copa do Brasil. Se avançar nessa competição e for campeão carioca, vai ser uma injeção de ânimo e de dinheiro (para reforços que ainda são necessários), prometendo um ano de 2009 feliz em General Severiano. É só continuar com os pés no chão.