quarta-feira, 21 de abril de 2010

Alegria, alegria

O Santos é Neymar e mais dez.

O Santos é Neymar.

O Campeonato Paulista é Neymar.

O Brasil é Neymar.

Se o Santos vai ser uma Seleção de 82 - que jogou bonito mas não ganhou - só o Santo André poderá dizer.

Mas de quem vamos falar daqui a alguns anos? "O que era aquele Santos do Neymar, hein?". De maneira que eu não me importo com os títulos que esse time possa ganhar ou não. Claro, não sou santista, fica mais fácil pensar assim.

Só que o Santos de Neymar faz muito mais do que uma ótima campanha num campeonato estadual. Ele mostra que apesar da desorganização de nosso futebol, da sanha exportadora de craques cada vez mais imberbes, do futebolismo carrancudo de resultados... ainda há alegria.

A alegria de Pelé e Garrincha, a que eles sentiam e a que causavam, está revelada em Neymar e cia. Isso não é pouca coisa, e não há título no mundo que seja grande o bastante para legitimar isso.

Assim como a flor citada por Carlos Drummond de Andrade, o futebol da Vila Belmiro em 2010 atropela os malfeitores e ousa sorrir (com a diferença que o futebol do Santos não é feio):

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

(...)

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nenhuma novidade

Alguém duvida que o Carioca 2010 será um título inesquecível para a torcida do Botafogo? Se essa frase fosse proferida no final do ano passado, e até no começo deste ano... Mas olhando para o que foi o campeonato, alguém discorda que o Glorioso foi o time mais arrumado?

Quando se diz que há uma responsabilidade grande de Joel Santana na ressurreição alvinegra pode-se evocar o jeitão do técnico, sua capacidade de motivar, mas também sua competência em armar o time com o que tem nas mãos. Claro que Joel entrou sem pressão alguma, o que facilita.

"Sem pressão??" É isso mesmo, sem pressão. Depois do 0 x 6 pro Vasco, quem tinha alguma expectativa com o Botafogo? Sobre o Fla estrelado e campeão brasileiro, o Flu reforçado e entrosado após a luta contra o rebaixamento e o Vasco voltando por cima da série B, era exatamente o contrário.

Então enquanto a torcida botafoguense não levava fé e não tinha o que cobrar (nem elenco decente ela tinha), Joel contou com a confiança devota da diretoria e mostrou ao grupo o  pouco que eles tinham de bom. E que deveriam ser os melhores nesse pouco.

Os rivais, com sua gama de possibilidades de escalação, variação de jogadas, competições paralelas que disputavam atenção com o Carioca, não sabiam direito no que se concentrar. O Botafogo sabia: em fazer uma campanha digna e saber que, numa competição de baixo nível e com tiro curto, era sua grande chance de redenção.

E foi com essa confissão de fé que o Botafogo realizou a sua "procissão". E a cada "milagre" realizado, maior a crença de que algo mais era possível. Desbancou o Flamengo quando o rubro-negro ainda impunha respeito; expôs as fraquezas táticas do Vasco e conseguiu o primeiro grito de campeão; aproveitou-se da indefinição tricolor e venceu de virada o Fluminense; e chutou cachorro morto ao vencer o Fla na decisão da Taça Rio.

O Campeonato Carioca é um feijão com arroz básico (e se continuar do jeito que está, vai virar um feijão com farinha, no máximo). Mas Joel Santana não tem nada com isso e mais uma vez entregou sua especialidade: um saboroso feijão com arroz, daqueles que nem a mamãe faria.

Após a ressaca geral, resta ao Botafogo decidir: está satisfeito com o básico, ou vai partir para culinárias mais refinadas?