segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Metade já foi


Finda o primeiro turno do Brasileirão 2009. Para mim, os destaques dessa fase do campeonato são as arrancadas improváveis que vários times deram, desafiando a lógica.

O Avaí é o maior exemplo: esmerava-se em empatar, passou um bom tempo em último e, de repente, é o sexto. Sem mudar técnico ou elenco. Não dá pra entender! Mas dá pra parabenizar. O Atlético-PR é outro que resolveu vencer sem explicar como.

O Goiás é outro que merece elogios, pois tem um time super equilibrado, e contratou "temperos" certos: Léo Lima voltou a ser o jogador cerebral que prometia; e Fernandão, pela experiência em títulos, vai somar muito a esse grupo.

O São Paulo, enquanto mantiver a mesma base que disputou os últimos campeonatos, terá jogadores conscientes de que os pontos corridos tem altos e baixos. E que uma arrancada dá a moral necessária para colocá-los de volta ao páreo. Ter contratado Ricardo Gomes como técnico só ajudou, pois é outro que está acostumado com esse tipo de disputa.

O Internacional, que foi incensado como o melhor time do país - hoje penso se dá pra existir tal classificação no futebol brasileiro - teve seus dias de baixa. Mas nunca descartei como candidato ao título, ainda mais mantendo o técnico Tite contra a irracionalidade da torcida. É o meu palpite para o campeão de 2009.

O Palmeiras, do jeito que andava com Luxemburgo e após a saída da Libertadores, pode ser considerado uma surpresa. Jogadores que flertavam com a irregularidade tornaram-se indispensáveis para qualquer partida: é o caso de Cleiton Xavier, Diego Souza, Pierre. Sem contar o incrível Obina renascido. Mas não vejo esse time campeão.

O Cruzeiro resolveu repetir o Fluminense de 2008: minimizou o Brasileirão, perdeu a final da Libertadores em casa, despencou na tabela e ainda se desfez de jogadores importantes. Uma decepção não só pra sua torcida, como para todos que apostavam que a Raposa ia disputar o título - era o meu segundo palpite.

O mesmo para o Corinthians, embora eu não achasse que fosse um futebol vistoso como muitos afirmavam. Era uma eficiência à la São Paulo, mas com a cara de Mano Menezes e seus "quase-jogadores" que rendem bastante. Só que a necessidade de vender jogadores bateu à porta, mas a Fiel não pode reclamar do ano de 2009: Ronaldo recuperado, Paulistão invicto e Copa do Brasil, assegurando vaga na Libertadores do ano do centenário.

O resto, é armazém de secos e molhados. Os times do Rio não empolgam: o Flamengo manteve o elenco e trouxe Adriano, mas não emplaca; o Botafogo, com sua (correta) política de não gastar mais do que arrecada, se vira como pode pra não ser rebaixado; e o Fluminense, sem comando nenhum desde o ano passado, vai colhendo os devidos frutos.

Santo André, Atlético-MG e Vitória começam a curva decrscente - previsível, diga-se de passagem. Com o fim da janela de transferências e o começo da Copa Sul-Americana, veremos outro brasileirão nesse segundo semestre.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Quem dá mais pelo Goiás?

Depois do Atlético-MG e seu elenco desconhecido, chegou a vez do Goiás ser a estrela da festa do Brasileirão. São 6 vitórias seguidas - 18 pontos - num time que conta com a experiência da "dupla sertaneja" Harley e Iarley comandando um time de garotos bons de bola.

Ontem contra o Flamengo, deu pra ver que duas características são marcantes para o sucesso goiano: um bom toque de bola e uma recomposição rápida da defesa. O que não dá pra acreditar é que Hélio dos Anjos seja o técnico de um time que joga assim. Léo Lima está onde pediu a Deus: todos correm por ele, que só precisa dar cotoveladas e acertar bons chutes e passes.

Quanto ao rubro-negro, Petkovic tem que entrar em campo mesmo de muletas - é o único que cria alguma coisa no meio-campo. E Denis Marques só pode entrar no segundo tempo, pois a falta de ritmo de jogo está gritante.

Corinthians e Cruzeiro vão descendo a ladeira: perderam para dois candidatos ao rebaixamento. O Timão ainda levará um tempo para se adaptar novamente - será que a torcida aguenta ou mais cadeiras vão voar?

A Raposa parece perdida. Adianta demitir Adilson Batista agora? É melhor deixar porque, em algum momento, o bom time de Minas voltará a vencer. Se precisar se adaptar a um novo treinador a essa altura, pode ser perigoso...

O São Paulo já está em quinto. É incrível. E folgo em ver o Avaí dando um nó nos prognósticos: de último para o 6º lugar, sem lógica nenhuma e mantendo o técnico Silas. Essa moda tem que pegar.

(Foto: Cristiano Borges/Agência O Globo)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vaiando e andando

(Na foto, Leo Moura e a torcida do Flamengo)

A repercussão das vaias a Leo Moura, e de seus xingamentos à torcida na hora do gol de empate do Flamengo tomaram uma proporção que eu, sinceramente, não imaginava. Achei que ia ficar aquela "dor de corno" entre o jogador e alguma torcida organizada, e só. Mas levantou o debate sobre o direito do torcedor vaiar e do jogador, de não aceitar a vaia.

Em primeiro lugar, é preciso que se diga: com exceção de atos violentos, o torcedor que paga ingresso e vai ao estádio tem o direito de fazer o que quiser, quando quiser. Veja bem: estamos falando do direito, do que lhe é permitido fazer e que ele não pode ser cerceado em sua liberdade.

Seja qual for o nível de maturidade do torcedor, se ele quiser vaiar, aplaudir, xingar ou gritar, ele pode. Se eu ou você discordamos de como ele usa esse direito, é outra discussão, que não vou ignorar neste artigo.

Em segundo lugar, fico impressionado em como o futebol é palco de uma catarse hipócrita, principalmente por parte da crítica esportiva. Não vou aprovar que Leo Moura, sabendo que está sendo televisionado para todo o país, em close, diga com todas letras os impropérios que vimos. Mas atire a primeira pedra quem nunca falou um palavrão durante uma pelada, principalmente pra desabafar enquanto é "pilhado" durante cada toque na bola.

Mas os que transmitem e analisam o esporte (alguns) encaram os jogadores como se eles fossem uma máquina, ou um santo. Não pode falar palavrão, não pode discordar do juiz, não pode tirar a camisa (dona Fifa não gosta), não pode ser enérgico demais, não pode brincar... Coitado de Garrincha, fanfarrão dentro e fora de campo, que foi expulso (numa semifinal de Copa do Mundo!) por ter chutado a bunda de um marcador que lhe desceu o cacete o jogo inteiro.

Vamos analisar a atitude de Leo Moura - e tantos outros lances do futebol - sem um moralismo plantonista que tira a graça da vida, ok?

Posto isso, vem a questão: é certo que um torcedor vá ao estádio predisposto a vaiar? Ou que vaie o time, ou determinados jogadores, durante o jogo, em vez de fazê-lo após o apito final? É lícito que o jogador julgue que o torcedor que vaia não é torcedor de fato? Ou simplesmente se recusar a ser vaiado?

Eu, se vou a um jogo do Flamengo, não vaio o time, por pior que ele esteja. Solto um palavrão ou uma interjeição de desgosto, desisto de incentivar ou fico quieto. Na minha opinião, se você se dá ao trabalho de ir ao estádio, tem que estar pronto pra tudo e saber que vaiar um time que está ruim não ajuda em nada a melhorar.

O jogador, por sua vez, tem que estar ciente que nem sempre será incensado. E a escassez de craques em território brasileiro é tão gritante que qualquer "marromeno" já se acha inquestionável. Se jogar bem, será aplaudido e reconhecido. Se não jogar, será vaiado e hostilizado. Sempre foi assim, mesmo nos tempos áureos do futebol.

Mas o caso de Leo Moura é emblemático. Os que acompanham esse blog sabem que tenho criticado o lateral há tempos. Desde o início do ano era nítido para quem acompanhava os jogos do Fla que o atleta abdicava do jogo, se escondia, ficava dando toques para os lados e não se expondo como os demais companheiros.

Porém, desde a queda de Cuca, Leo Moura voltou a correr, a marcar, a ir à linha de fundo, a cruzar, a fazer gols com vontade - e Andrade não mudou o esquema do time. Ora, essa mudança toda a torcida do Flamengo percebeu. E fica no ar a suspeita que, antes, Leo Moura não se entregava porque não queria. E o torcedor não vai perdoar tão cedo um jogador que deliberadamente põe em risco o desempenho do time por qualquer motivo.

É nesse contexto que, a partir da primeira jogada errada que praticou, a torcida tenha começado a vaiar. Ela está na bronca com o jogador. E ao xingar diretamente os torcedores no estádio após o gol, Leo Moura jogou gasolina em fogueira acesa. Agora aguente a repercussão.

O lateral precisa se dar conta que, a cada gol ou bela partida que fizer, as vaias vão diminuindo. Que mesmo os críticos mais ácidos vão ter que "botar o galho dentro" e dizer, em voz baixa, ao companheiro de bar: "O filho da p... joga...". E aceitar que ele é importante para o time. Juan age exatamente assim, tanto que dá última vez que foi vaiado fez gol e simplesmente ficou quieto. Não deixou de ser um protesto.

Outro contexto que paira sobre a questão é que boa parte do elenco do Fla parece desgastado com a torcida e estagnado na carreira, o que afeta sua motivação. Bruno, Leo Moura, Ronaldo Angelim e Juan são os principais. Obina era outro, mas foi só mudar de ares e vejam só. Jogar junto 4 anos e ganhar, no máximo, uma Copa do Brasil - e colecionar vexames - é desanimador pra qualquer atleta.

domingo, 2 de agosto de 2009

Pela gordura!

Não, não estou falando de Ronaldo Fenômeno. Estamos praticamente na metade do Brasileirão e alguns times parecem ter se dado conta que este é o momento de acumular o máximo de pontos possível.

Isso porque a janela de transferências está a todo o vapor, com contratações súbitas, e também pelo fato da Copa Sul-Americana (onde metade dos times do campeonato vai voltar a se dividir em duas competições) só começar em setembro.

O Palmeiras está assanhado pra disparar na liderança, mas o Atlético-MG não deixou. O Goiás conseguiu a quinta vitória seguida e São Paulo e Grêmio sobem o elevador. A irregularidade ainda não larga Flamengo, Corinthians e Cruzeiro. Em todos os casos, pontos preciosos - ganhos ou perdidos, de acordo com o clube.

Destaco nessa rodada a boa vitória do São Paulo, derrubando a invencibilidade do Vitória dentro de casa. Dagoberto engrena e o fantasma tricolor volta a atormentar os adversários: será que a história vai se repetir? É a "lenda" que joga a favor do time do Morumbi.

O Botafogo jogava bem e empatava. Agora, jogou mal e ganhou do Barueri no finalzinho. André Lima vai aos poucos voltando à forma de homem-gol - é ótimo para a equipe ter uma referência no ataque. Se Jônatas acertar mais passes precisos, melhor ainda.

O Flamengo jogou mal contra o Náutico. Na verdade, marcou mal, e tomou um gol que tirou a tranquilidade do time. É impressionante como jogar em casa tem se tornado um tormento para o rubro-negro, ao contrário de outros tempos: a torcida anda sem paciência alguma. A reação de Leo Moura é o retrato dessa relação conturbada.

Faz-me rir!

Taí mais um episódio que prova como a paixão futebolística do torcedor fala mais alto, e muitas vezes beira a irracionalidade. Agora que o Corinthians perdeu meio time na janela de transferências é que o presidente Lula resolve chiar, inclusive ameaçando intervir.

Demorou, hein, presidente? Como se isso estivesse acontecendo só agora no futebol brasileiro. Como se há tempos o Ministério do Esporte não fosse tão omisso quanto ao papel governamental na questão. Agora que o seu Timão se prejudicou é que o senhor acha um absurdo, presidente?

Daqui a pouco a conta da Copa do Mundo cai toda no seu colo e você vai reclamar de novo, presidente. E o senhor foi eleito pra reclamar, presidente? Achei que fosse pra chefiar, tomar decisões, ter um staff de ministros que desse conta do recado.

Ah, presidente, fico muito feliz com seu desespero diante do desmanche corintiano. Se o senhor estiver falando sério mesmo e resolver intervir de alguma forma, ponto pro futebol e pra torcida, que poderá ver seus craques por mais tempo aqui no Brasil. E se o senhor estiver lançando mais uma bravata, será ótimo vê-lo fazendo pirracinha depois de não ter coragem pra mexer na caixa-preta do esporte nacional.

A declaração é ainda mais infeliz, presidente, porque até então o senhor sabia usar muito bem o imaginário do futebol para se comunicar com o povo. Por meio das metáforas ou da sincera demonstração de que gosta mesmo do assunto, e acompanha o seu time do coração. Com essa chiadeira, parece até que não conhece nada de futebol, alienado do contexto que ocorre desde o primeiro Brasileirão por pontos corridos, em 2003. Papelão, presidente.

Portanto, presidente, azar o seu se vários jogadores do Corinthians foram embora. O meu Flamengo, por enquanto, está mantendo o time e não tenho do que reclamar. Ou nos preocupamos com a questão com a motivação certa - o tal do espírito público - ou o senhor fique quietinho e aguente os demais times ultrapassando o Curíntia na tabela.