sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os três mosqueteiros


Uma mudança cultural pode estar começando diante de nossos olhos. Os protagonistas desse processo? Mano Menezes, Zico e Luís Álvaro de Oliveira, presidente do Santos. Atitudes recentes tomadas por eles, bem como a transparência sobre o que pensam, podem dar outro norte à maneira de se enxergar e fazer futebol no país.

Atendendo ao clamor popular da vez e às encomendas do patrão Ricardo Teixeira, Mano Menezes entabulou a renovação da Seleção e a volta do futebol ofensivo, com muito cavalheirismo perante imprensa e patrocinadores. Até aí, nada de novo na postura de um técnico de Seleção que começa o seu trabalho.

Porém Mano tem ido além em sua postura. Já declarou que o Brasil precisa retomar o protagonismo no cenário mundial, e que isso deve se refletir dentro de campo com um futebol que intimida o adversário, no sentido talentoso da expressão. Como se não bastasse, ressaltou que os volantes da Seleção devem saber sair pro jogo, e não apenas "combater". E esclarece cada dúvida sobre suas convocações, sem embromation. Também opinou que jovens craques como Neymar devem permanecer mais tempo no país.

Zico assumiu o risco de ser cartola enquanto ainda permanece no panteão dos deuses da torcida do Flamengo. Assim que os primeiros resultados negativos apareceram, veio a pressão para reforçar o time sob pena de ter sua gestão ser tachada de incompetente - com apenas dois meses de vida.

O Galinho já imaginava que haveria gente para jogar contra dentro do próprio clube, que contam até com mensageiros midiáticos. As especulações sobre reforços surgiam na imprensa e Zico não confirmava nenhuma delas. Confrontado por repórteres quando faltavam dois dias para fechar a janela de transferências, ele reiterou: "Só vamos anunciar quando tudo estiver sacramentado e os atletas tiverem condição de jogo".

Dois dias depois, Deivid e Diogo chegaram, e o anúncio foi feito pelo site oficial do Flamengo, dentro das condições acima descritas. Zico não vazou a informação para jornalistas muy amigos, nem prometeu o que não podia só pra acalmar a massa rubro-negra. Ouviu críticas de que não estava se movimentando para resolver o problema e as engoliu em seco. Contratou, e cumpriu o objetivo de não fazer loucuras financeiras ou prejudicar o clube em relação a empresários.

O presidente do Santos fecha o trio com chave de ouro. Em vez de ter o pensamento mercantil de quanto poderia faturar com a venda de Neymar e dar o assunto por encerrado, pensou "fora da caixa". Fez o dever de casa, quebrou a cabeça, fez contatos para saber como convencer o jogador e seu staff a permanecer no Santos.

Apresentou um plano de carreira que não envolvia só dinheiro, mas a valorização do jogador e do cidadão Neymar, e vai fazer o mesmo com Ganso. Durante todo o ano, assim como o técnico Dorival Junior, respeitou as características dos atletas sem cair no patrulhamento hipócrita e moralista que o mundo do futebol tanto adora.

Pra completar, Luís Alvaro ainda denunciou o Chelsea à Fifa por aliciar Neymar enquanto ele ainda negociava com o Santos. "É necessário mostrar que o Brasil não é coloniazinha subdesenvolvida", disse ele. Esquerdismo de ocasião? Não, apenas a defesa do futebol brasileiro em todas as suas instâncias.

Outra característica comum aos três é que cultivam um bom relacionamento com todas as partes envolvidas no seu trabalho, sem deixar de exercer a autoridade e a responsabilidade que lhe cabem: imprensa, técnicos, jogadores, dirigentes, torcida, patrocinadores.

Mano, Zico e Luis Álvaro dependem de resultados vitoriosos dentro de campo para sacramentarem sua moderna maneira de encarar o futebol. Entretanto já são expoentes de um novo pensar. O país que é o maior celeiro de craques do planeta não pode ser tocado de um jeito amador e antiquado. Nem como se ainda fosse colônia de exploração. Tampouco deve copiar tudo o que vem de fora só por fetiche.

Atitude, trabalho suado e sério, transparência nos métodos e caráter para alcançar os objetivos. Os três mosqueteiros têm tudo isso, e espero que inspirem os demais.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Com Zico Pelo Flamengo na Gávea... e bastidores


(Ironicamente, essa foi a única foto que ficou boa)

O Futebol Racional acompanhou o encontro entre os torcedores do movimento Com Zico Pelo Flamengo e a presidente do clube, Patricia Amorim, além do próprio Zico. Foi uma oportunidade para conhecer melhor o movimento e também para sentir o clima da Gávea, ouvindo argumentos da oposição e explicações de Patricia.

Houve autorização para que qualquer torcedor que aparecesse com a camisa do Fla pudesse entrar no clube (cerca de 60 estavam presentes). Assim que Zico e Patricia chegaram do Ninho do Urubu, foram ao gramado e ouviram o apoio do Com Zico Pelo Flamengo.

"O CZPF é um movimento espontâneo e que não está ligado a nenhuma torcida. Queremos apoiar o Zico, que veio purificar o clube, ele é o verdadeiro Flamengo", explica Rafael Garrido, um dos integrantes. A ideia é conscientizar os torcedores que a volta de Zico é um momento único para o clube, e é preciso um engajamento para solidificar esse apoio.

No gramado, entregaram duas cartas e se puseram à disposição para mobilizar a torcida nas campanhas que o clube vier a implantar. Patricia e Zico agardeceram e reafirmaram que é esse tipo de apoio que eles mais precisam.

A oposição a Zico e também a Patrícia

Antes do encontro, o Futebol Racional conversou com um integrante da diretoria de planejamento no mandato de Delair Drumbosck (presidente que perdeu a reeleição para Patricia). Pedindo para não ser identificado, ele contou que a gestão atual não deu continuidade a projetos que estavam consolidados junto à torcida do Flamengo.

"Ainda na gestão Marcio Braga, grupos de torcedores em todas as partes do país recebiam um apoio institucional do clube para serem as Embaixadas da Nação, um ponto de encontro em cada uma das cidades do Brasil e em diversas cidades do mundo. Cada embaixada funcionava de maneira autônoma, onde o clube apenas apontava diretrizes a serem seguidas. Isso foi abandonado", conta.

Outro projeto que segundo ele está esquecido pela gestão atual é o do GEASE-FLA - Grupo Especial Alegria e Segurança nos Estádios, em que voluntários propunham e implementavam ações para ajudar na segurança dos estádios. "Além disso, a Patricia não tem quadros. Há vice-presidências em aberto, e alguns, como o Michel Levy, estão acumulando duas vice-presidências". Segundo o ex-integrante, tudo o que foi encaminhado por Delair a Patricia não foi levado em consideração.

"As críticas só não estão aparecendo por causa do Zico. A presença dele inibe o pessoal de falar abertamente", completa. E afirmou que há integrantes da diretoria atual que estão contra Zico.

Patricia responde sobre dinheiro, Traffic, sabotagem a Zico e mudança no estatuto

Enquanto Zico tirava fotos e dava autógrafo com TODOS os torcedores que compareceram, Patricia Amorim respondeu a várias perguntas, numa coletiva improvisada.

Ela admitiu que pode haver oposição a Zico no clube - "sempre tem um infeliz" - e que está dando todo o apoio ao Galinho, embora não tenha citado nenhum exemplo prático disso. Política experiente, ela conseguiu dar várias respostas longas sem dizer muita coisa.

Quanto questionada sobre a situação financeira para contratar, Patricia explicou que o clube não pode fazer loucuras e que ainda estão trabalhando com o orçamento aprovado na gestão passada. "Para 2011, a história é outra". A mudança no estatuto do clube, para trazer independência ao departamento de futebol, está sendo preparada - informação confirmada por Zico.

Sobre a possibilidade de empresas como a Traffic fazerem negócios com o clube na contratação de jogadores, a presidente admitiu que é possível, "se o negócio for bom para o Flamengo". Por exemplo, se a porcentagem do passe for maior para o clube do que para a parceira.

Patricia afirmou que enfrenta dificuldades porque não faz parte de nenhum grupo político, "assim como Zico", e acrescentou que Delair Drumbosck não encaminhou nenhuma ideia ou sugestão - ao contrário do afirmado pelo ex-integrante de sua diretoria de planejamento.

Zico, as dificuldades e os reforços

Já anoitecendo, Zico também emendou numa coletiva improvisada no gramado. Reafirmou que só anuncia reforços quando estão inscritos no BID (boletim da CBF para registro de jogadores regularizados) e desconversou sobre todos os nomes veiculados na mídia, como Diogo e Deivid. Mas que vai tentar até o final da janela de transferências, daqui a dois dias.

O Galinho também ressaltou o exagero nas críticas ao time atual. "Estamos a um ponto da Libertadores, e com vários jogadores do título de 2009. Será que o Flamengo é tão ruim assim?". No treino de hoje, o diretor-executivo conversou com o elenco, pedindo para que acreditassem em si mesmos a despeito das críticas. E acrescentou: "ninguém perde jogadores de alto nível, como nós perdemos, impunemente".

Perguntado pelo Futebol Racional sobre qual é a maior dificuldade que está enfrentando no Flamengo, Zico disse que é a falta de independência do departamento de futebol. "Nós precisamos tomar decisões rápidas, e não temos hoje condições de fazer isso, de sermos ágeis". Ele confirmou que estão preparando a mudança de estatuto, mas que "isso tem que ser feito de forma fundamentada e bem preparada, para não ser aprovado e logo ser deixado de lado".
 
Foi possível perceber que Patricia consegue causar empatia nos torcedores e dar respostas para qualquer quationamento - mesmo que escape das perguntas mais complicadas. Ela reafirma o apoio a Zico mas nem ela nem o Galinho dão detalhes sobre como esse apoio acontece lá dentro.
 
Também é possível perceber que o grande objetivo de Zico é a construção de um Centro de Treinamento, priorizando uma reformulação total do trabalho com as divisões de base. Em nome disso, o trabalho com o time profissional é um "osso do ofício" que Zico está tocando - e parece estar engolindo muitos sapos no processo.
 
O clima na Gávea parece ser o de uma bomba-relógio que está em stand by pela presença de Zico. Mas também existe a percepção que é uma questão de tempo para que essa bomba desapareça. Para isso, é necessário algum sucesso no Campeonato Brasileiro e a mudança de estatuto, para dar a autonomia na prática ao departamento de futebol (com Zico à frente, claro).
 
Com Zico Pelo Flamengo manifesta apoio a Zico:
 


sábado, 14 de agosto de 2010

Se eu fosse o Neymar...

Não é fácil ser jogador de futebol no Brasil. Isso vale para todos, seja desconhecido ou famoso, perna-de-pau ou craque. Ele sempre estará cercado de expectativas, opiniões, palpites, cobranças, euforias, patrilhamento, puxa-saquismo. E na grande maioria das vezes será visto apenas como uma máquina de chutar bola, quase nunca como pessoa.

Veja o caso de Neymar. Apenas 18 anos, e graças ao êxodo de jogadores brasileiros, precisou ser aproveitado no time profissional desde o ano passado. Nessa idade mostra futebol de gente grande, sem se intimidar e com imenso talento. Ironicamente, é essa postura em campo que o atrapalha a viver uma vida normal para quem tem 18 anos.

Pare e lembre seus 18 anos. Imagine que você, no seu primeiro estágio, já desponte como um ótimo profissional. O natural é que seus chefes, colegas de trabalho, família, amigos o orientem e o acompanhem. Sempre levando em consideração que você está começando, e que por melhor que seja o seu desempenho, você tem apenas 18 anos.

No entanto, seria uma loucura colocá-lo num cargo ou numa situação de responsabilidade esperando que você aja como alguém experimentado e com décadas de profissão. E seria burrice esperar que alguém de 18 anos dê conta do recado sem a bagagem necessária.

Mas é isso que estão fazendo com Neymar. Como dentro de campo ele é um prodígio e não sente a pressão de ter apenas 18 anos, pensam que ele pode ser assim nos outros aspectos da vida. Um patrulhamento desnecessário que pode levar a própria torcida a vê-lo de uma maneira que Neymar nunca tentou ser visto.

Um garoto de 18 anos não pode decidir sozinho se aceita ou não ir para a Inglaterra. Não pode se sentir responsável por milhões de euros que vâo e vêm. Não pode bater de frente com empresário, torcida, família e fazer o que bem entende. Se já fosse um atleta com carreira consolidada e com a maturidade de faixa etária correpondente, a história é outra.

Do jeito que anda o noticiário sobre a sua possível transferência para o Chelsea, daqui a pouco Neymar será chamado de mercenário se aceitar a proposta. O próprio empresário chantageia com a possibilidade de ser o melhor jogador do mundo agora ou nunca, como se Neymar não tivesse apenas... 18 anos.

O Santos já se posicionou do ponto de vista profissional: se o clube inglês pagar a multa, o contrato pode ser rescindido. O pai de Neymar deve considerar que seu filho é nome certo na Seleção renovada, é muito novo e mesmo se for embora daqui a dois anos, não chegará tarde à Europa.

Neymar deve continuar com seu compromisso dentro de campo e aproveitar seus 18 anos. A patrulha não o deixa nem curtir com os amigos da sua idade!

De que adianta formar novos craques se queremos que eles já surjam formados? De que adianta prezar pelo bom futebol se deixamos de enxergar os jogadores como pessoas? Deixem Neymar seguir o curso normal da vida...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Colírio!


É inevitável o pensamento a seguir: que diferença da Seleção anterior, hein? Assumo aqui o compromisso de não me referir mais ao Dunga e seus anões, apenas a Mano e seus maninhos. Há muito, muito tempo eu não via um jogo do Brasil com tanto gosto e tão feliz por ver ofensividade e versatilidade saindo pelo ladrão.

Não imaginava que os jogadores convocados, mesmo os que estreariam pela Seleção, fossem sentir o peso. Muitos deles foram cedo para time titular e para o exterior, já estão acostumados a grandes jogos e camisas idem. Fiquei surpreso foi com o entendimento em campo, mais do que entrosamento - que seria impossível em um dia e meio de treinos de um novo grupo.

Mesmo quando a jogada não tinha o desfecho esperado, você percebia que o raciocínio dos atletas era parecido, quase uma afinidade (com exceção de Daniel Alves). Por exemplo: Pato errou o tempo de alguns passes, mas acertava na intenção planejada por quem dava a assistência.

Parece besteira, mas não é. Se esses jogadores mantiverem tal feeling, as coisas pode acontecer bem mais rápido do que se imaginava.

Também nesse sentido, é bom ver que o recado de Mano Menezes foi compreendido em campo. Deslocamentos, vontade de fazer gols, preenchimento de espaços... Tudo assimilado e bem executado. Com exceção do lance de Donovan no início ainda nervoso do Brasil, e na cochilada do final em que Vitor caprichou no reflexo, em nenhum momento os EUA ameaçaram.

Um time com três atacantes de ofício e dois volantes que saem pro jogo pode se defender com competência? Claro, talento e habilidade só contribuem para a tática, sempre. Robinho e Neymar fechavam os espaços e até roubavam bolas, sem abrir mão da chegada à frente, contando com laterais pra tabelar. Com volantes de bom passe e senso de definição, pouquíssimas bolas sobram pro adversário tendo que ser recuperadas.

Foi só um jogo, e ainda há outros atletas a serem convocados. A camisa 9 ainda parece vaga. A 6 precisa de mais testes. Porém, dentro das condições da escolha do técnico, do tempo para conovcação e da grande expectativa levantada, foi um ótimo começo. Dá confiança e tranquilidade para todos os envolvidos no processo da Copa 2014.

Foi um verdadeiro colírio: bom para os olhos, na beleza e na medicina.

PS: E o que foi o gol de Playstation, hein? Ramires apertando triângulo e Pato apertando R1 direto, no macete, passando pelo goleiro...

Análises individuais:

Vitor - Boa atuação de um bom goleiro que não tem presepada (coisa rara no Brasil) e de ótima reposição de bola com as mãos. A sobriedade sempre faz bem à camisa 1;

Daniel Alves - Destoou. Errou passes fáceis, nervosinho, raciocínio lento. Deveria ter sido substituído por Rafael, pois seria uma alteração de jogo e pra experimentar o garoto;

Thiago Silva - Seguro como sempre, nem precisou aparecer;

David Luiz - Roubou a cena de Thiago Silva. Mostrou personalidade e recursos (chuta com os dois pés, é bom na cobertura);

André Santos - Se deixar os lances violentos no passado, como fez hoje, vai ter uma briga boa com Marcelo. Foi sua melhor atuação pela Seleção, cruzamento perfeito no primeiro gol;

Lucas - Excelente proteção à zaga, sem se tornar um eunuco ofensivo. Tem tudo pra tomar conta da camisa 5;

Ramires - Ninguém duvida de seu talento na sua real posição: segundo volante, como hoje. Lindo passe para o gol de Pato, mas tem chegado atrasado nas jogadas, desde a Copa. Tem categoria pra melhorar isso;

Hernanes - Continuou o bom trabalho de Ramires, ficando mais atrás;

Paulo Henrique Ganso - Pelo que já li e ouvi, tenho a impressão de que o camisa 10 é a nova versão de Didi e Ademir da Guia. Não precisa correr nem aparecer o jogo inteiro pra fazer diferença. Não foi uma grande partida, mas vai crescer com o tempo. Pensa muito, muito rápido;

Ederson - Coitado. Merece outra chance, por misericórdia;

Jucilei - Só deu tempo de sentir o gostinho de jogar pela Seleção;

Carlos Eduardo - Ponto pra versatilidade. Joga no ataque, no meio, na lateral, com velocidade. Mostrou um pouco disso no meio hoje;

Neymar - Acabou com o jogo. Parecia jogar uma pelada, de tão leve em campo. Renovou o contrato do drible na Seleção, partiu pra cima, fez um gol de centroavante, jogou pro time... Imprescindível;

Pato - Bom jogo, embora ainda precise de mais confiança pra assumir a camisa 9. Dois gols (um anulado) de oportunismo, que compensa suas atuais deficiências (falta de ritmo e de explosão, por exemplo);

Robinho - Ótimo jogo. Voltou pra armar, chegou à frente rodando o ataque inteiro, chutou a gol, e não ficou mal de capitão. Será que vira gente grande de uma vez por todas?

André - Ainda duvido que tenha vida fora do Santos e de seus colegas Neymar e Ganso. Mas tem idade olímpica, deve ser mais testado;

Diego Tardelli - Será mesmo que tem nível de Seleção?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O voo solo do Santos


Não há no Brasil um time como o Santos. Isso não é uma opinião, é uma constatação. Se Fluminense e Internacional tentam concorrer com a qualidade de elenco e suas opções, a comparação para por aí. O time da Vila Belmiro tem um elenco jovem, que joga no ataque (mesmo que leve muitos gols), que ousa beirando o atrevimento e a marra, que joga bonito, com um técnico humilde. E que é campeão, de novo.

As finais da Copa do Brasil mostraram todo o potencial e os riscos do time do Santos. Um equilíbrio entre jogadores experientes e garotos, mas com o talento e o raciocínio rápido como denominador comum. A correria em busca de todos os gols possíveis e a cadência pra gastar o tempo com o resultado a seu favor. O susto de um pênalti polêmico e a jogada do gol decisivo em Salvador causados pelo atrevimento do mesmo jogador.

Quando o Santos passou dos 100 gols na temporada, foi constatado também que a defesa já tinha levado uns 50. Dorival Jr. afirmou que isso não era um problema, problema seria armar o time contrariando as características ofensivas de seus jogadores. E que a solução seria essa mesma: fazer mais gols do que levar. Não é simples? Essa humildade do comandante do Santos é crucial para o sucesso do time e o máximo aproveitamento de cada atleta.

Dorival pra mim ainda não mostrou que é um grande técnico, mas ao menos seu ego não é maior que seu profissionalismo. Cabia a ele um papel de coadjuvante e auxiliador da voluptuosidade ofensiva e talentosa de Ganso, Neymar e Robinho, e assim o fez. Seu único erro foi querer tirar o camisa 10 na final do Paulistão, mas mostrou maturidade ao não guardar mágoas quando Ganso se recusou a sair.

Eu acho muito engraçado um país que teve Romário, Túlio, Viola e tantos outros marrentos/estrelas ficar tão invocado com um deslumbramento de Neymar. É uma raiva que eu não consigo entender sem ver uma certa inveja no ar.

Se você tivesse 19 anos, fosse cheio da grana e todo o Brasil te adorasse, não seria marrento um só minuto? Com exceção do pênalti na Vila, quando Neymar deixou que sua fama fosse mais importante do que suas tarefas em campo? Deixem o garoto amadurecer no tempo devido, como qualquer pessoa que já teve 19 anos.

Continuo na torcida para que o Santos vença o Campeonato Brasileiro com esse futebol que agrada a todos e resgata nossas melhores tradições - e COM RESULTADO. Se um time perde jogando bonito e automaticamente pensa-se que não dá pra ganhar assim, os Meninos da Vila 2010 invertem o tosco raciocínio. Por que ninguém pensa em jogar bonito quando perde jogando feio? É mais fácil mascarar a mediocridade do que buscar a perfeição...