quarta-feira, 16 de abril de 2008

Superfaturados

Romário anunciou, pela milésima vez, que não joga mais. Dessa vez parece que é sério. Enquanto o mundo relembra seus feitos na história do futebol, gostaria de chamar a atenção para um em especial.

Não se trata de uma jogada, um gol, uma frase ou uma atitude tomada pelo Baixinho. Na verdade, pode-se dizer que ele foi parte de um processo iniciado por outros. Falo do inflacionamento dos passes e salários de jogadores brasileiros atuando no país.

Em 1995, o Flamengo trazia Romário do Barcelona. Ainda com status de melhor jogador do mundo, com 29 anos. Valor do passe: US$ 2,5 milhões, capitalizados num pool de empresas. Não lembro de outra contratação internacional feita por um time brasileiro, desse porte e com tantas expectativas.

O salário de Romário não seria igual ao dos outros, é claro. Assim como o de Wanderley Luxemburgo, contratado a peso de ouro pra ser o técnico rubro-negro no ano do centenário. A partir daí, os valores requeridos e especulados nas transações nacionais só fez aumentar.

Pra piorar esse quadro veio a Lei Pelé, que concedia o passe livre aos jogadores quando completassem 25 anos (antes era aos 32, já começando o fim de carreira). A intenção foi boa, mas os clubes trataram de se desfazer de seus talentos mais cedo, a tempo de fazer caixa. E aí, tome valores altos.

Esse espírito persiste, só que hoje muitas cifras são impensáveis diante da realidade à qual estão ligadas. Sem contar os inúmeros jovens que não se adaptam nos seus destinos e são repatriados antes do tempo.

Exemplos: Juan, lateral do Flamengo, com 18 anos foi para o Arsenal, da Inglaterra. O que ele fez por lá? Ibson, também do Fla, com 23 anos já foi repatriado! E tantos outros...

Os empresários, então, se tornaram indispensáveis aos clubes. Estes, sem dinheiro para manter a inflação e precisando acalmar a torcida, rendem-se aos empresários, que só querem a vitrine pra logo negociar o jogador. São corretores de passes. E empurram boas e más pedidas.

Hoje leio no Lance! que Wellington Paulista estaria valendo 6 milhões de euros. O atacante alvinegro tem seu valor, mas é artilheiro de um campeonato fácil pros grandes, não disputou sequer um Brasileirão e não ganhou título algum! Sequer está no nível internacional de um atacante. Como assim, 6 milhões de euros?

A proporção foi jogada pro espaço. E os clubes aceitam esse jogo, pois preferem manter-se numa surrealidade de pisos salariais, cada vez mais reféns dos empresários e sem persepctivas a longo prazo. O cara faz 10 gols numa temporada e já é tachado de "craque". Isso já foi muito mais raro do que é hoje.

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