segunda-feira, 9 de março de 2009

Ronaldo: o exagero e ambiguidade

O Corinthians acaba de contratar um reforço estelar. Craque de 32 anos que fez história na Seleção Brasileira, tendo participado de 3 copas: numa delas, foi o principal jogador do Brasil, além de artilheiro. No entanto, após graves contusões nos joelhos e com uma vida boêmia questionável, ninguém sabe se poderá render o que dele se espera. Certo é que só a sua presença como jogador do Timão já começa a encher os cofres do clube.

De quem você acha que o parágrafo acima está falando? Ronaldo ou Garrincha? Acertou quem disse os dois. As semelhanças entre os atletas nesse momento da carreira são impressionantes, e já tinham sido abordadas pelo jornalista Mauricio Stycer em seu blog.

Quais seriam, então, as diferenças? A primeira é que Mané tinha que entrar em campo, cheio de infiltrações nos joelhos, para que o Corinthians ganhasse uns trocados. Ronaldo sequer precisa treinar para que a instantânea exposição na mídia e o afã de patrocinadores de toda ordem surja aos pés do departamento de marketing. É o nosso Beckham.

Outra diferença é que Garrincha era um alcóolatra inveterado. O Fenômeno parece impressionar também ao virar copos, mas nada que chegue ao quadro do grande camisa 7 da Seleção.

Quem acompanha este blog percebe que não tenho dado tanto destaque aos fatos sobre Ronaldo. É proposital, e nada tem a ver com o fato de ser carioca ou flamenguista (não me senti "traído" pelo jogador só porque ele nào acreditou na conversa fiada dos dirigentes rubro-negros). Simplesmente não sou adepto da bajulação excessiva nem gosto de supervalorizar a realidade.

Mas é assim que vive Ronaldo e sua corte midiática (que inclui torcedores). Ele respira, sai de casa, entra no carro, espirra, treina, não treina, muscula, não muscula, dorme, acorda... e não sai da nossa TV, dos nossos jornais, das nossas revistas. E isso sem sequer entrar em campo!

Quero deixar bem claro que não vaticino o pior para Ronaldo. Se ele voltar a jogar bem (e quiser viver uma vida de atleta por isso), é mais um craque em território brasileiro. Mas não adianta exigi-lo antes da hora nem exagerar nas celebrações de sua recente volta.

De tanto ser paparicado, Ronaldo ficou mal acostumado. Gosta desse trato, mas fica chateado quando é flagrado em situações que ele preferia ter deixado ocultas. Não entende por que a tal corte o expõe na mesma proporção dos momentos de sucesso.

Paradoxalmente, é na corte que Ronaldo busca a reparação. Caiu na gandaia com travestis? Entrevista exclusiva no Fantástico (e em sua massiva audiência, torcedores). Ficou na esbórnia e fugiu da concentração prestes a estrear pelo Corinthians? Pito de Fátima Bernardes em outra exclusiva, dessa vez para o Jornal Nacional.

E se, na sua volta, não recebe um passe do meio-campo Douglas, acabam com a carreira de Douglas. Se faz um gol empatando um clássico no último minuto (quer coisa mais épica?), está a um passo da Seleção Brasileira. Afinal, o que é exagero e o que é realidade nessa história toda?

Fato: Ronaldo está voltando aos poucos, ainda está fora de forma, mas parece não ter perdido a característica da arrancada em direção ao gol. Só. O mais é expectativa desnecessária.

Vamos ser proporcionais, minha gente. Vamos acompanhar o Fenômeno da maneira que ele deve ser acompanhado. Deixar isso virar circo de novo é crueldade (e encheção de saco) com quem acompanha futebol. E pode ser crueldade até com Ronaldo, se ele voltar a viver no mundo da lua por causa disso tudo.

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