Por mais que seja Brasil x Argentina, por mais que seja futebol, não se pode dizer que o resultado de ontem foi imprevisível. A Seleção de Dunga, cada vez mais especialista em contra-ataque, venceu a Seleção de Maradona, desajustada como há muito não se via nos hermanos.
A impressão que se tem é que, se Maradona tivesse assumido o cargo de treinador na mesma época que Dunga, já teria passado pela "fase inferno" que o caracteriza agora, e teria tempo para se recuperar para a Copa. Afinal, ambos não tinham experiência e sempre tiveram ótimo material humano nas mãos.
Esse acerto do time ficou claro no jogo em Rosario. O Brasil não se apavorou com a pressão inicial da Argentina e o clima de "caldeirão". Tal postura é característica de um time entrosado e que sabe como se portar taticamente. Já Messi e cia., em situação desesperadora na tabela, faziam as tabelinhas e os dribles que estão no seu estilo de jogo, mas não se pode dizer que assustaram.
O problema do Brasil, pra variar, é no meio-campo. Gilberto Silva e Felipe Melo não marcavam bem. E se não faziam isso, o que mais podem fazer? O volante da Juventus ainda arrisca umas arrancadas aqui e ali, mas seria perigoso tentar isso ontem. Elano, lento como sempre, só contribui quando bate as faltas na cabeça dos jogadores de área - é muito pouco para estar na Seleção. Kaká, então, era o homem-solo: tentava criar e apanhava muito, sempre sozinho.
Verón e Zanetti podem ter qualidade de sobra (e têm) mas a competitividade física não pode ser descartada - ao menos na seleção nacional. Em seus respectivos times jogam sob esquemas que compensam os problemas da idade. Mas não é o caso da Argentina de hoje, que tem uma defesa toda ruim e completamente desprotegida.
O que traz problemas para o ataque: por melhor que sejam, Messi, Tevez, Agüero e Milito ficam com uma responsabilidade em dobro se não conseguirem os gols. E tal nervosismo era visível em vários momentos da partida.
E o que foi a jogada do terceiro gol do Brasil? Kaká, à la Zico, esperou o momento exato para dar um lindo passe para Luís Fabiano, que só tinha uma opção e a executou: um clássico toquezinho de cobertura. Do autêntico camisa 10 para o autêntico camisa 9.
Aliás, dá gosto ver Luís Fabiano sossegando lobbies de outros centroavantes para o seu lugar. É o artilheiro das Eliminatórias e não passa um jogo sem deixar o seu. Já Robinho parece hibernar faz tempo. Acorda a tempo da Copa?
E se alguma vantagem há para a Seleção Brasileira atual, é a versatilidade de seu elenco. Daniel Alves e Ramires podem jogar na defesa, no meio e no ataque, fazendo gols até. Eu colocaria o ex-cruzeirense de início, já que o time joga no contra-ataque (o que é preciso rapidez pra pensar e correr, tudo o que Elano não tem).
Por mais que exista a rivalidade, não gostaria de ver a Argentina fora da Copa, pelo bem do bom futebol. Mas os dirigentes de lá podem pagar muito caro por jogar a responsabilidade nas mãos de Maradona tão em cima da hora. E o risco é duplo: de perder a vaga e de arranhar a imagem do mito.
Estou curioso pra ver como o Brasil se porta sem Kaká. Não acredito que Julio Baptista seja o reserva ideal, embora sempre mostre espírito de Seleção e de "deixa que eu resolvo". Diego já começou a fazer chover na Itália, e seria muito bom se acertasse de vez se for convocado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário