segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ser ou não ser ídolo?


À essa altura, até o mais desmemoriado torcedor sabe da importância que Ronaldo teve na história do futebol mundial e, sobretudo, do brasileiro. As retrospectivas protagonizaram o dia (ainda que num tom lamentoso. Parecia que o jogador tinha morrido) e não vou me alongar aqui sobre o que o Fenômeno fez na carreira.

O que eu queria destacar é que, como tantos outros craques, ele era ídolo onde passava. Mesmo quando ficou sem jogar, não sumiu da mídia, nem do coração esperançoso de quem torcia por ele. Mas será que Ronaldo teve a real noção do que é ser ídolo?

Digo isso porque Ronaldo sempre reclamou que o Brasil não trata bem seus ídolos, à medida que as críticas apareciam - sejam sobre o trabalho em campo ou sobre os episódios diversos fora dele.

O problema é que, para Ronaldo, tratar bem significa paparicar. Desde os 16 anos levou uma vida de rei (fruto de seu trabalho, sem dúvida), com toda a corte à sua volta para protegê-lo e passar a mão na cabeça quando preciso. Pra completar, com a Globo capitalizando em cima de seu carisma e tentando blindá-lo para não comprometer a cara imagem.

Só que, como todo ídolo, Ronaldo é humano. E por mais que a religião do marketing tente negar, uma hora essa humanidade vem à tona. Seja numa contusão, num hipotireodismo, num motel da Barra da Tijuca ou no Twitter.

Entretanto, como Ronaldo vive no reino da fantasia (pois uma carreira sem críticas é coisa de ficção), nunca suportou que alguém falasse mal dele. Isso se manifestou até mesmo na hora da despedida. Quando citou a causa de sua gordura e a impossibilidade de perdê-la, quis deixar pesada a consciência de muitos críticos (e torcedores rivais que não perderam o espírito zoador do brasileiro). E ainda disse que não guarda mágoa. Tô vendo...

Todos os ídolos foram criticados em diversos momentos da carreira. E tiveram que lidar com isso, de algum jeito. Zico ganhava motivação pra revidar em campo; Romário rebatia, criando frases inesquecíveis; Garrincha não podia negar o ocaso de seu futebol - assim como Ronaldo agora.

Ronaldo deixa muitas lições para futuros jogadores: determinação, coragem para ser um jogador decisivo, alegria a cada gol marcado. Mas também lembra que ninguém é perfeito ou intocável - nem pode pensar que é. Falta humildade a muitos craques e jovens promessas, e Ronaldo é uma das referências para eles. Nesse ponto, pode ter sido mau exemplo.

E para os míopes de plantão, ressalto: destacar esse aspecto da carreira de Ronaldo não desmerece nem apaga o que ele fez com chuteiras.

Um comentário:

Terrestres Anônimos disse...

Não sei se o Ronaldo soube ser ídolo. Não sei (em dobro) o que é ser ídolo nas últimas décadas. Já parou para pensar quem são os ídolos da atual juventude? Nem vou citar nomes para não me aborrecer..