sábado, 14 de agosto de 2010

Se eu fosse o Neymar...

Não é fácil ser jogador de futebol no Brasil. Isso vale para todos, seja desconhecido ou famoso, perna-de-pau ou craque. Ele sempre estará cercado de expectativas, opiniões, palpites, cobranças, euforias, patrilhamento, puxa-saquismo. E na grande maioria das vezes será visto apenas como uma máquina de chutar bola, quase nunca como pessoa.

Veja o caso de Neymar. Apenas 18 anos, e graças ao êxodo de jogadores brasileiros, precisou ser aproveitado no time profissional desde o ano passado. Nessa idade mostra futebol de gente grande, sem se intimidar e com imenso talento. Ironicamente, é essa postura em campo que o atrapalha a viver uma vida normal para quem tem 18 anos.

Pare e lembre seus 18 anos. Imagine que você, no seu primeiro estágio, já desponte como um ótimo profissional. O natural é que seus chefes, colegas de trabalho, família, amigos o orientem e o acompanhem. Sempre levando em consideração que você está começando, e que por melhor que seja o seu desempenho, você tem apenas 18 anos.

No entanto, seria uma loucura colocá-lo num cargo ou numa situação de responsabilidade esperando que você aja como alguém experimentado e com décadas de profissão. E seria burrice esperar que alguém de 18 anos dê conta do recado sem a bagagem necessária.

Mas é isso que estão fazendo com Neymar. Como dentro de campo ele é um prodígio e não sente a pressão de ter apenas 18 anos, pensam que ele pode ser assim nos outros aspectos da vida. Um patrulhamento desnecessário que pode levar a própria torcida a vê-lo de uma maneira que Neymar nunca tentou ser visto.

Um garoto de 18 anos não pode decidir sozinho se aceita ou não ir para a Inglaterra. Não pode se sentir responsável por milhões de euros que vâo e vêm. Não pode bater de frente com empresário, torcida, família e fazer o que bem entende. Se já fosse um atleta com carreira consolidada e com a maturidade de faixa etária correpondente, a história é outra.

Do jeito que anda o noticiário sobre a sua possível transferência para o Chelsea, daqui a pouco Neymar será chamado de mercenário se aceitar a proposta. O próprio empresário chantageia com a possibilidade de ser o melhor jogador do mundo agora ou nunca, como se Neymar não tivesse apenas... 18 anos.

O Santos já se posicionou do ponto de vista profissional: se o clube inglês pagar a multa, o contrato pode ser rescindido. O pai de Neymar deve considerar que seu filho é nome certo na Seleção renovada, é muito novo e mesmo se for embora daqui a dois anos, não chegará tarde à Europa.

Neymar deve continuar com seu compromisso dentro de campo e aproveitar seus 18 anos. A patrulha não o deixa nem curtir com os amigos da sua idade!

De que adianta formar novos craques se queremos que eles já surjam formados? De que adianta prezar pelo bom futebol se deixamos de enxergar os jogadores como pessoas? Deixem Neymar seguir o curso normal da vida...

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