quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sonhar já custa menos

Gostei da estréia do Brasil. E, além da Alemanha, pode-se dizer que nossa Seleção foi outra das favoritas ao título que mostrou conjunto, com um time onde cada jogador sabe o que tem que fazer em campo, tanto individual quanto coletivamente. Itália e Argentina eram um bando, e a Espanha mostrou pouco poder de decisão.

Para um time em que metade dos jogadores nunca jogou uma Copa, contra um adversário fraco porém mega retrancado, o 2 x 1 só saiu caro por termos levado um gol. Mas a vitória veio, e isso porque o até então teimoso Dunga mexeu no time quando foi necessário, tornando-o, veja só, mais ofensivo.

O problema é que o péssimo relacionamento entre Dunga e a imprensa prejudica a melhor análise sobre o rendimento da Seleção em campo – que é o que mais interessa. Este blog criticou o técnico quando isso se justificava, mas é preciso reconhecer os seus méritos, que apareceram já no primeiro jogo da Copa.

Primeiro: o espírito de grupo (que na minha opinião não precisava ser de quartel), matou as possíveis vaidades. É um problema a menos na hora de definir quem é titular e quem é reserva. Nada de pirraças durante as substituições, por exemplo.

E se Elano é um jogador burocrático (e é mesmo), ao menos tem seus lampejos de proatividade. Foi dele o passe para deixar Maicon usar o talento que tem e fazer um gol  “à la Gigghia”. Depois, graças ao entrosamento da Seleção, apareceu bem pra fazer o segundo. E aí bateu o ponto, saiu e já estava de bom tamanho.

Dunga também provou que Julio Baptista não é o natural substituto de Kaká, e sim Robinho. O mesmo esquema utilizado na Copa América de 2007, agora com a entrada do esperto Nilmar pra compor o ataque. O lindo passe do jogador do Santos para o segundo gol provou que a alternativa é boa.

Daniel Alves e Ramires entraram, mudando a cara da Seleção. Sim, eles poderiam começar jogando, e Dunga cada vez mais parece simpático à idéia. Mas enquanto isso não acontece, acaba sendo um fator surpresa – assim como Nilmar. E não se pode colocar na conta do técnico a falta de ritmo de Kaká e Luís Fabiano.

Enfim, não concordo com a opinião geral da imprensa esportiva de que foi uma estréia ruim. Foi a estréia possível, que mostrou as qualidades (conjunto, opções de elenco) e os defeitos (time titular ainda sem a devida iniciativa ou sem estar 100% fisicamente, casos de Luís Fabiano e Kaká).

Dunga escolheu um método de trabalho: fechar o grupo, restringir contato com a imprensa, não se render a lobbies de última hora etc. Concordando ou não, foi uma decisão que ele tomou. Além disso, o técnico faz questão de expor as precipitações e limitações dos jornalistas esportivos. A tensão entre as partes aumenta, o que é natural.

Mas não adianta os profissionais de imprensa fazerem beicinho e quererem vilanizar Dunga a qualquer custo. Vamos falar de futebol, antes de tudo. O Brasil jogou bem, embora possa melhorar. E encerro com três grandes pérolas do técnico, com as quais concordo plenamente. Todas servem de reflexão para o tipo de jornalismo esportivo que se faz no país:

SOBRE OS TREINOS FECHADOS:

“É uma nova forma de trabalhar, e vocês, da imprensa, não estão acostumados. Mas assim como vocês cobram criatividade da Seleção, podem se tornar criativos na hora de cobrir a Seleção.”

SOBRE A FAMA DE RABUGENTO:

“Eu apanho de manhã à noite e, quando dou uma resposta atravessada, sou rancoroso, rabugento. E vocês (jornalistas) se acham, sempre, simpáticos, bem-humorados... Mas vocês têm 24 horas pra me bater e eu só um minuto pra responder.”

RESPONDENDO AO ELOGIO DE UM JORNALISTA À ATUAÇÃO DE ROBINHO:

“Pois é, quando ele estava no Manchester City queriam que eu parasse de convocá-lo. Você mesmo era um desses, né? O problema é que eu tenho memória de elefante, lembro de tudo...”

4 comentários:

André Marques disse...

Marcos, não é a primeira vez que o Brasil tem dificuldades contra uma seleção fechada. Há quanto tempo falamos isso aqui? Lembra dos 0x0 com Bolívia e Colômbia? Por isso eu disse que esse jogo seria o mais difícil da primeira fase. É provável que Portugal e Costa do Marfim sejam mais presentes no ataque e isso facilita as coisas para o Brasil.

Adriano disse...

gostei muito do post, Marcos, enfim uma voz sensata! concordo com quase tudo o que postou, principalmente no que tange à relação imprensa x Dunga, venho dizendo essas coisas pra todos os "malas" que me cercam falando sobre Seleção, hehehe...

abração!

Francisco Costa disse...

Acho que todos concordam que a convocação foi equivocada e que faltaram muitos nomes na lista. Porém, mesmo após a convocação, o Dunga escala o time errado. Com o futebol pífio que Felipe Melo e GSilsva apresentam, nosso meio campo não vai render como deveria. Claro, sem esquecer as condições precárias que o Kaká chegou a Copa. Não falta apenas criatividade e/ou velocidade. Falta mesmo é inteligência futebolística, digamos assim. Isso não quer dizer que no banco tenha grandes jogadores, mas certamente temos uma mão de obra mais qualificada e eficiente.

Sobre a Espanha, Marcos, poder de decisão é irrestritamente fazer os gols? Eu duvido.

Abs!

Marcos André Lessa disse...

André, lembrei exatamente desses dois jogos. Mas mesmo se pegar outra Seleção fechada, acho q vai conseguir um resultado positivo.

Chackal, no caso da Espanha, poder de decisão é fazer gols sim. Viu quanto preciosismo na hora de definir, contra Honduras? Se não fosse o Villa...