segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vaiando e andando

(Na foto, Leo Moura e a torcida do Flamengo)

A repercussão das vaias a Leo Moura, e de seus xingamentos à torcida na hora do gol de empate do Flamengo tomaram uma proporção que eu, sinceramente, não imaginava. Achei que ia ficar aquela "dor de corno" entre o jogador e alguma torcida organizada, e só. Mas levantou o debate sobre o direito do torcedor vaiar e do jogador, de não aceitar a vaia.

Em primeiro lugar, é preciso que se diga: com exceção de atos violentos, o torcedor que paga ingresso e vai ao estádio tem o direito de fazer o que quiser, quando quiser. Veja bem: estamos falando do direito, do que lhe é permitido fazer e que ele não pode ser cerceado em sua liberdade.

Seja qual for o nível de maturidade do torcedor, se ele quiser vaiar, aplaudir, xingar ou gritar, ele pode. Se eu ou você discordamos de como ele usa esse direito, é outra discussão, que não vou ignorar neste artigo.

Em segundo lugar, fico impressionado em como o futebol é palco de uma catarse hipócrita, principalmente por parte da crítica esportiva. Não vou aprovar que Leo Moura, sabendo que está sendo televisionado para todo o país, em close, diga com todas letras os impropérios que vimos. Mas atire a primeira pedra quem nunca falou um palavrão durante uma pelada, principalmente pra desabafar enquanto é "pilhado" durante cada toque na bola.

Mas os que transmitem e analisam o esporte (alguns) encaram os jogadores como se eles fossem uma máquina, ou um santo. Não pode falar palavrão, não pode discordar do juiz, não pode tirar a camisa (dona Fifa não gosta), não pode ser enérgico demais, não pode brincar... Coitado de Garrincha, fanfarrão dentro e fora de campo, que foi expulso (numa semifinal de Copa do Mundo!) por ter chutado a bunda de um marcador que lhe desceu o cacete o jogo inteiro.

Vamos analisar a atitude de Leo Moura - e tantos outros lances do futebol - sem um moralismo plantonista que tira a graça da vida, ok?

Posto isso, vem a questão: é certo que um torcedor vá ao estádio predisposto a vaiar? Ou que vaie o time, ou determinados jogadores, durante o jogo, em vez de fazê-lo após o apito final? É lícito que o jogador julgue que o torcedor que vaia não é torcedor de fato? Ou simplesmente se recusar a ser vaiado?

Eu, se vou a um jogo do Flamengo, não vaio o time, por pior que ele esteja. Solto um palavrão ou uma interjeição de desgosto, desisto de incentivar ou fico quieto. Na minha opinião, se você se dá ao trabalho de ir ao estádio, tem que estar pronto pra tudo e saber que vaiar um time que está ruim não ajuda em nada a melhorar.

O jogador, por sua vez, tem que estar ciente que nem sempre será incensado. E a escassez de craques em território brasileiro é tão gritante que qualquer "marromeno" já se acha inquestionável. Se jogar bem, será aplaudido e reconhecido. Se não jogar, será vaiado e hostilizado. Sempre foi assim, mesmo nos tempos áureos do futebol.

Mas o caso de Leo Moura é emblemático. Os que acompanham esse blog sabem que tenho criticado o lateral há tempos. Desde o início do ano era nítido para quem acompanhava os jogos do Fla que o atleta abdicava do jogo, se escondia, ficava dando toques para os lados e não se expondo como os demais companheiros.

Porém, desde a queda de Cuca, Leo Moura voltou a correr, a marcar, a ir à linha de fundo, a cruzar, a fazer gols com vontade - e Andrade não mudou o esquema do time. Ora, essa mudança toda a torcida do Flamengo percebeu. E fica no ar a suspeita que, antes, Leo Moura não se entregava porque não queria. E o torcedor não vai perdoar tão cedo um jogador que deliberadamente põe em risco o desempenho do time por qualquer motivo.

É nesse contexto que, a partir da primeira jogada errada que praticou, a torcida tenha começado a vaiar. Ela está na bronca com o jogador. E ao xingar diretamente os torcedores no estádio após o gol, Leo Moura jogou gasolina em fogueira acesa. Agora aguente a repercussão.

O lateral precisa se dar conta que, a cada gol ou bela partida que fizer, as vaias vão diminuindo. Que mesmo os críticos mais ácidos vão ter que "botar o galho dentro" e dizer, em voz baixa, ao companheiro de bar: "O filho da p... joga...". E aceitar que ele é importante para o time. Juan age exatamente assim, tanto que dá última vez que foi vaiado fez gol e simplesmente ficou quieto. Não deixou de ser um protesto.

Outro contexto que paira sobre a questão é que boa parte do elenco do Fla parece desgastado com a torcida e estagnado na carreira, o que afeta sua motivação. Bruno, Leo Moura, Ronaldo Angelim e Juan são os principais. Obina era outro, mas foi só mudar de ares e vejam só. Jogar junto 4 anos e ganhar, no máximo, uma Copa do Brasil - e colecionar vexames - é desanimador pra qualquer atleta.

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