sábado, 5 de julho de 2014

Cruel

Estou mais triste por Neymar do que pela Seleção. O rapaz de 22 anos que entrou na Copa com uma responsabilidade absurda sobre os ombros e não fugiu dela. Que disse não sentir a pressão porque estava realizando um sonho. Que agora não terá a oportunidade de tentar jogar uma final do maior torneio de futebol do mundo em seu país. Como bem disse o jornalista Bruno Torturra, a dor na coluna deve ser a menor que Neymar está sentindo agora.


Quando o vi sendo colocado na maca com todo cuidado por ser uma lesão na coluna e chorando horrores, já dava pra ver que era sério. Fui para a casa de uns amigos logo após o jogo, e só lá fiquei sabendo do fim do sonho para Neymar. E apenas quando retornei pra casa, já de madrugada, vi os detalhes e a repercussão da pior notícia da Copa.

"Você ficou bem mexido com esse lance do Neymar", observou minha esposa. Sim, fiquei abalado. Imaginei Neymar no hospital, tendo a confirmação que ele não joga mais pelo Brasil. Visualizei e ouvi seu choro convulsionado, daqueles que nos arrebatam quando estamos diante de uma tragédia pessoal. A morte de um parente próximo, um acidente que muda o nosso modo de viver, uma falência abrupta enquanto você tem filhos pra criar. A dor de nosso prodígio deve ser emocionalmente lancinante.

A dor deve se agudizar ou renovar sua força quando Neymar se der conta que dificilmente ele terá chance  de jogar uma Copa no Brasil de novo. Não adianta condenar Zuniga. Não adianta perdoar Zuniga. Não adianta reclamar do juiz. Não adianta culpar o juiz. Não adianta reclamar dos abusos governamentais para fazer essa Copa. Nada disso vai trazer Neymar de novo aos gramados do Brasil em 2014.

Por ser uma lesão na vértebra, provavelmente Neymar deverá ficar imóvel pelos próximos dias. Será obrigado a deitar numa cama e dela não sair. Logo ele, que se movimentava por todo o campo, que algumas vezes me irritou por ser fominha em vez de passar de primeira. Nosso camisa 10 foi arrancado de seu sonho.

Não poderá sequer estar ao lado dos companheiros, no clima do jogo. Talvez tenha que ver da TV a Copa em seu país (justo a que ele era o principal protagonista) - o que normalmente nós, torcedores, fazemos em todas as Copas pelo resto do mundo. Estava em campo, agora estará numa cama de hospital longe do estádio. A crueldade da situação é refinada, cirúrgica, tétrica.

Lembrei de quando boa parte da imprensa esportiva que, contagiando alguns torcedores, praticamente expulsou Neymar do país, para que ele "desenvolvesse" na Europa. Depois de muito tempo tínhamos um craque em casa, que gostava de estar em casa, cujo clube fez o possível pra prolongar essa estadia.

Mas parece que precisamos de motivos pra reclamar, e com Neymar no Brasil não dava pra entoar a ladainha de que nossos craques não ficam mais aqui, que por isso nosso futebol piorou, blá, blá, blá. Chegamos a ser instigados a odiar Neymar, pra que sua saída fosse um alívio geral para todos.

E Neymar voltou como pilar, sem pipocar, querendo resolver, com todas as limitações de maturidade que qualquer um de nós temos aos 22 anos. Provavelmente muitos que o "expulsaram" comemoraram seus gols.

Zuniga nos fez chorar, e é possível que a Alemanha pague por isso. É possível que David Luiz e mais 10 levante essa taça para nós e para ele. Seria uma história bonita e tocante, que com certeza confortaria Neymar.

Mas a realidade é dura e seca, como o sertão de Graciliano Ramos: Neymar não joga. E a certeza dessa dor, meus amigos, é o que me deixa compadecido de nosso camisa 10. Hoje chora porque ficou de fora, e até o dia 13 vai chorar de novo pelo mesmo motivo, repetidas vezes. Será que esse choro também vai ser condenado por nossas patéticas projeções, como fizemos com Thiago Silva?

Neymar se machucou e está fora da Copa. A notícia que nenhum brasileiro queria ouvir, quiçá o mundo que acompanha o Mundial de futebol. Mas é real. Tão real quanto a dor que se passa no coração de um rapaz de 22 anos que vivia um sonho e deitou no pesadelo.

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