segunda-feira, 16 de maio de 2011

O luxo de Patricia, a patricinha de Luxa


Nada poderia ser melhor para Patricia Amorim do que a vinda de Vanderlei Luxemburgo. Nada poderia ser melhor para Vanderlei Luxemburgo do que a gestão de Patricia Amorim. Ambos possuem projetos de poder distintos, mas que se complementam - e dependem um do outro.

Patricia está no terceiro mandato como vereadora inexpressiva no Rio de Janeiro. Nenhum projeto de lei seu virou destaque, e sua base eleitoral é em parte da Zona Sul. Na campanha para presidente do Flamengo, teve a estratégia mais correta: buscou votos de quem realmente decidia, os sócios do clube. Delair Drumbosck ganhou um título que não aparecia por 17 anos, trouxe Adriano, valorizou Andrade mas nada disso adiantaria, pois a nação rubro-negra não é associada.

Ex-nadadora do clube, Patricia prometeu retribuir o apoio dos esportes olímpicos à sua candidatura, assim como a melhoria nas instalações sociais do clube. Faturou fácil a eleição. Mas depois, vieram os problemas: não tinha equipe suficiente para gerir o clube (Michel Levy e outros acumulavam vice-presidências) e não entendia nada de futebol - a ponto de seu marido tricolor acompanhá-la nas reuniões que decidiam sobre o esporte.

A partir da vinda de Zico, sua habilidade política veio à tona. Surfou na popularidade de ter trazido de volta o ídolo máximo do clube. Quando o Galinho passou a querer levar a sério o cargo, os interesses dos grupos políticos do Fla foram estremecidos. Os empresários já não tinham mais vez (Deivid e Diogo são patrimônio do clube, sem intermediários), e aí começou o processo de "omissão planejada" que é característica de Patricia.

Nas entrevistas e pronunciamentos, Patricia dizia que Zico tinha toda autonomia. Ela disse isso até no dia em que o movimento "Com Zico pelo Flamengo" fez uma manifestação de apoio na Gávea. Mas ao ouvir as entrevistas de Zico, percebia-se o oposto: o "timing" das contratações era prejudicado, por exemplo, pela falta de integração entre as vice-presidências envolvidas.

Pra se ter uma ideia, para contratar Ronaldinho tudo funcionou perfeitamente: presidente, vice de futebol e de finanças trabalhando juntos e afinados. Que diferença dos tempos de Zico clamando sozinho no deserto - e sendo cobrado por isso.

Completando o trabalho maquiavélico, Patricia sumiu de cena e deixou Leonardo Ribeiro, presidente do Conselho Fiscal, para liderar o processo de "fritura" de Zico. Muito mais conveniente: ex-líder de torcida organizada e com aquela cara de Zeca Urubu, todo o ódio da torcida e dos críticos seria canalizado nele, e não na mandatária do clube. Ah, e Leonardo é funcionário do gabinete de Patricia na câmara.

Quando Ronaldinho veio, Patricia não saiu do seu lado até o craque começar a ser questionado. A partir daí, sumiu novamente e só reapareceu pra sair na foto dos títulos conquistados, ainda em campo. Associando seu nome e sua presença só a boas notícias, agora é virtual candidata a vice-prefeita do Rio de Janeiro numa possível candidatura à reeleição de Eduardo Paes. Caso ele saia dois anos depois pra tentar ser governador, Patricia viraria prefeita do Rio! Pra quem até o ano passado era uma vereadora obscura...

O fator Luxa

E onde entra Luxemburgo nisso tudo? Bom, ele não esconde de ninguém que quer virar manager de futebol. É assim que se defende das acusações de ingerência em contratações, ou de querer mandar nos departamentos de futebol dos clubes que o empregam. Usa até o exemplo de Alex Ferguson, do Manchester United.

Esse "projeto", como ele gosta de dizer, tinha tudo pra evoluir no Atlético-MG. Mas, assim como Zico,  sofreu com os resultados desfavoráveis em campo. Luxemburgo chegou a um Flamengo acéfalo no departamento de futebol, na comissão técnica e com uma presidente que não interfere simplesmente porque não tem competência pra isso. Era o cenário perfeito.

Com uma vaidade extrema que sempre o caracterizou, Luxemburgo adora ser o centro das atenções, muitas vezes funcionando de pára-raio sem querer - como no caso Adriano. O funcionário ideal para Patricia e seu conjunto de omissões planejadas e aparições públicas quando convém.

Outro ponto em comum entre os dois é a falta de transparência para justificar suas decisões. Enquanto Patricia "dá um perdido" nas peguntas incômodas (que o diga Caio Barbosa, autor da matéria do Extra sobre o balanço do Flamengo), Luxemburgo responde o que quer nas coletivas, além de desviar o foco dos questionamentos mais profundos. Até hoje ninguém viu ou explicou o contrato com a Traffic, em que o técnico foi intermediário crucial, a ponto de chamar a empresa de "nossa parceira".

Tudo isso vai muito bem enquanto o Flamengo vence dentro de campo. O déficit contábil, a falta de patrocínio master, posições carentes no elenco... Nada disso está caindo na conta de Patricia e de Luxemburgo - até agora.

Só que o Brasileiro de 2011 promete ser um dos mais difíceis dos últimos anos. E uma lembrança tanto dos céticos como dos supersticiosos: Luxemburgo foi campeão mineiro em 2010 com o Atlético-MG...

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