terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O rótulo

Um dos grandes problemas na análise de futebol de hoje é quando se observa o rótulo, não o conteúdo. É o que se vê quanto a Ronaldinho Gaúcho, por exemplo.

Colaram em Ronaldinho o rótulo de “ele não é decisivo quando o time precisa”, “pipoqueiro”, “amarelão”, e por aí vai. E é a partir desse estereótipo que as atuações do jogador do Milan são avaliadas. Também é pelo rótulo que opinam se ele deve ir ou não à Copa.

Ronaldinho decidiu um jogo do campeonato italiano? “Ah, só contra time pequeno”. Decidiu o clássico contra a Juventus? “Ah, a Juve faz campanha de rebaixado”. Não jogou bem contra a rival Inter de Milão? “Tá vendo? Pipocou...”.

Hoje, contra o Manchester United, Ronaldinho fez o primeiro gol, deu o passe pro segundo e levou perigo à defesa inglesa várias vezes. Mas como o Milan perdeu levando dois gols de Rooney, automaticamente o brasileiro é classificado como decepção. Se Kaká tivesse o mesmo desempenho com o Real Madrid, com o mesmo resultado final, ninguém diria isso.

É curioso constatar os dois pesos e duas medidas quando se trata de avaliar os medalhões que fracassaram na Copa de 2006. O já citado Kaká ainda faz jus a ser intocável, mas e quanto a Ronaldo, Robinho e Adriano? Ao contrário de Ronaldinho, estes três desistiram de jogar na Europa e voltaram ao Brasil. Diante do êxodo constante dos nossos melhores (e jovens) talentos, é claro que eles iriam sobrar por aqui.

Ronaldinho Gaúcho foi o único a tentar prosseguir jogando em alto nível, sem artimanhas disfarçadas de saudade de casa. Mesmo em seus piores dias na Itália, continuou buscando melhorar em meio aos melhores craques do planeta. E tem conseguido.

Ronaldo, ausente em metade dos jogos do Corinthians, merece a Copa? E Robinho, um fracasso no Manchester City (onde por muito tempo era o jogador mais talentoso mas não mostrou isso em campo)? Adriano conseguiu maior regularidade, mas não na Europa. A condescendência com eles é proporcional à crueldade com que julgam Ronaldinho Gaúcho.

E desistam de esperar o Gaúcho na Copa 2010. Dunga será mais fiel a seus lacaios, como Josué, Felipe Melo e Gilberto Silva. E até ao próprio Robinho. Está além da capacidade do técnico da Seleção flexibilizar seus métodos em nome da presença de um talentoso (embora inconstante) Ronaldinho. Para Dunga, o importante é a estabilidade e a lealdade, critérios que nunca preocuparão os medíocres com vaga certa na Copa.

Será que Ronaldinho vai ter que reinventar o futebol pra ser levado a sério novamente?

Um comentário:

Contra-Cheque disse...

Concordo com você. Aliás, não apenas contra a Juve, Ronaldinho decidiu também o clássico contra a Roma com assistências. É ai que está, grande parte da mídia hoje comprou essa idéia barata de objetividade. Eles começam a implicar com dribles e improvisos. E Ronaldinho sempre foi o homem improviso. Enquanto ele jogar, muitos o detonarão, principalmente essa nova imprensa esportiva extremamente estatística e pouco preparada (não me refiro ao PVC, que é um grande jornalista e faz bom uso das estatísticas). Comparar Ronaldinho a Kaká é maldade. Mesmo que o jogador do Real estivesse em melhor fase, este Ronaldinho do Milan já estaria em nível superior. Kaká é um craque, mas compará-lo ao Gaúcho é expor também o conservadorismo que é marca no nosso país, falsamente taxado de liberal. Mas discordo de você. Ronaldinho irá a Copa, porque mostra sinais de que sua fase vai persistir e será impossível para Dunga achar uma desculpa plausível para não convocá-lo. A pressão aumentará e a população começará a ganhar antipatia pelo atual selecionado canarinho sem a presença de Gaúcho. Espero que assim seja! Abraços.