Ele parou. Quando a TV do restaurante mostrou o goleiro do Botafogo chorando no ombro da mãe em meio às homenagens pela despedida, parei pra olhar. E deu um nozinho na garganta aqui. Jefferson foi um dos jogadores de futebol mais próximos de nós, cidadãos comuns.
Assim como o Homem-Aranha era um super-herói com problemas pra pagar o aluguel, Jefferson era um senhor goleiro que se machucava, ia pra reserva e precisava gramar pra voltar à titularidade. Já ídolo, viu Gatito se assenhorar de seu lugar e sua resiliência no banco nunca foi interpretada como fraqueza, mas exemplo.
O carisma de Jefferson era do tipo afetuoso. Nada de marra, frases de efeito, bate-bocas homéricos. O sorriso contido do goleiro é daqueles que te deixa à vontade pra dividir uma garrafa de cerveja no boteco da esquina.
Nada de malabarismos desnecessários sob as traves. O futebol de Jefferson era correto e comprometido, a ponto de suas falhas jamais serem creditadas à displicência. Seus milagres eram pragmáticos, mas nem por isso desespetaculosos.
Fiquei muito feliz quando chegou à Seleção, porém lamentando que seu melhor momento já havia passado. Era predestinado ao Botafogo, fazendo com que o lendário Manga pudesse ser lembrado pelas novas gerações. E ao Botafogo de seu tempo, com altos e baixos esportivos e financeiros, plenamente identificado com um clube que trocou quase todo o elenco durante o período, menos Jefferson.
Além disso, após Barbosa e a maldição cretina (e racista) sobre os goleiros negros, lá estava Jefferson, depois de Dida, rompendo barreiras do preconceito do qual não foi a única vítima dentro dos gramados.
Antes de ser jogador, foi palhaço de circo para sobreviver. Já consagrado, foi assaltado tendo seu carro roubado. Em ambas as situações, era o mesmo Jefferson: com uma audiência cativa (as câmeras de segurança filmaram o roubo) compadecendo-se de sua tragédia e torcendo pela virada.
E agora Jefferson deixa o picadeiro. Sua despedida foi numa segunda-feira, dia de trabalho: nada mais humano.